Encontrei-me com o poeta
Thiago Martins, no Recife Antigo. Escolhemos um lugar para comer algo enquanto
conversávamos. As antigas parcerias que fizemos quase sempre são parte dessas
conversas. Nesta ocasião, falávamos um pouco sobre as nossas recentes produções.
Aproveitei a oportunidade para contar uma experiência ao poeta... Estava no
aeroporto e entrei numa livraria. Encontrei alguns livros de Sidney Sheldon e
outros autores. Li aqueles trechos da biografia de alguns deles e, para minha
surpresa, muitos deles se tornaram escritores com mais ou menos cinqüenta anos
de idade. Falei para o poeta que isso me confortava. “23 anos e nada”, pensava
eu. Já era hora de ter um “Best-seller”, ganhar o prêmio Jabuti ou publicar um
livro de contos ou poemas. O poeta me confortou: “Somos muito jovens. Ainda tem
muita coisa que vamos fazer”. Concordei com ele. Trocamos os celulares e os
fones de ouvido. Cada um de nós tinha uma música nova a ser apresentada ao
outro. Ouvimos e comentamos as canções um do outro, fizemos observações e
elogios. Naquela noite, enquanto conversávamos sobre o que havíamos criado e
sobre o que queríamos criar e depois de massagearmos nossos egos, dei-me conta
de que o poeta acreditava em mim tanto quanto eu, e que eu acreditava nele,
tanto quanto ele. Minha mente criou uma bela conexão de histórias quando, mais
tarde, ouvi o poeta Kerlle de Magalhães dizer “... meus ídolos são meus amigos”
e quando o poeta Gleison Nascimento me disse que sempre que citava uma frase
dita por mim ou por outro amigo poeta, fazia questão de declará-la, na íntegra,
como se colocasse aspas, e sempre começava a frase com “O poeta “fulano” disse
que...”. Fiquei lisonjeado. O poeta Gleison Nascimento me aconselhou que, nas
crônicas, sempre que eu precisasse citar alguém, que o fizesse de maneira a
identificar o sujeito (usar nome, sobrenome e título), pois, para ele, no
futuro, isso seria útil para a lembrança e o resgate de fatos, pessoas e momentos
de nossas histórias...para quando fôssemos ser estudados... Ontem, na internet, assisti a uma entrevista do escritor
português José Saramago, ao programa Roda Viva. Ele se tornara escritor aos 55
anos de idade. Eis mais um ponto de conexão da minha teia. Aprendi que a
velhice é importante para obter conhecimento a respeito de algumas coisas que,
mesmo nesse mundo globalizado e nessa era da informação na qual vivemos, não iremos
aprender até que nos tornemos velhos... Pois como disse Renato Russo: “somos
tão jovens”, mas “não temos tempo a perder”. É uma honra ter tanta mente brilhante ao meu lado! Que soe pretensioso ou orgulhoso,
mas sinto que sabemos bem quem somos e o que queremos e estamos trabalhando
para nos tornarmos, quem sabe, talvez, como ele, José Saramago ou como os outros, os outros
mestres...
-Danillo
Melo-
29/08/2012