Sobre paredes e vidas.

Hoje acordei disposto e fui ajudar um amigo a pintar sua casa. Sabe-se bem que trabalho manual é também um momento de reflexão (ninguém pinta uma parede, conversando.) como não sou diferente estava pintando, mas ao mesmo tempo me fazendo algumas perguntas. Como nós chegamos ao que somos hoje? Como se decidiu o que é correto e errôneo? Será que alguma verdade é absoluta? Bem, nada me veio e continuei pintando. Vale salientar que o muro da frente da casa desse amigo é coberto por uma trepadeira ( aquelas plantas que tomam todo o muro e o deixam verde.) na parte de fora e a planta está começando a se expandir para a parte do muro que fica dentro da residência ( onde eu estava pintando.), quando estava próximo a este muro pude observar esta planta começando a invadir a casa e o que me chamou a atenção é a maneira dela se expandir, crescer.

Primeiro um fino caule ( solitário, desbravador.) cresce e começa a ramar, ainda desajeitado, ainda solto da parede, mas abrindo caminho para que os outros caules cresçam a partir de suas entranhas, formando aquele lindo tapete verde. O detalhe principal é que vão crescendo simultaneamente alguns outros finos caules. A  partir de cada caule deste, florescem outros caules que vão se espalhando pela parede e que dão origem a outros caules, assim sucessivamente até que o muro esteja completamente coberto.

Bem, talvez sejamos nós, assim como esta planta, caules crescendo de outros caules, que vieram de outros caules até que chegamos à nossas raízes. E assim como esta planta, a pesar de sermos resultado de outro caule, não temos que crescer na mesma direção que este, muito pelo contrário se quisermos cobrir a parede temos que correr em outras direções, para outros horizontes. Assim é a planta, assim é a vida.

Bem, terminei de pintar a parede e disso tudo tirei um aprendizado que vou levar para o resto da vida. Não é uma boa idéia ficar refletindo enquanto se pinta uma parede, atrasa o trabalho.

Pintores pintam, filósofos é que refletem.

-Gleison Nascimento-