terça-feira, 14 de agosto de 2012

Zoada por zoada. Cerveja gelada!


Vou lhe deixar localizado. Um primeiro andar. Resido na parte de cima. Vizinha, ao lado esquerdo, existe uma casa de eventos chamada Art’s Passos. O detalhe é que meu quarto fica na extrema esquerda da casa, que dá para o telhado, de zinco, da ‘vizinhança inconveniente’.
Ontem, sábado, aconteceu um evento que perdurou durante a madrugada. A acústica do lugar é horrível. Faz um barulho infernal, tocando ‘ eu quero tchu e eu quero tchá.’, quando na verdade só quero um pouco de paz numa madrugada de sábado. Até ai tudo bem, pois que a academia (Como é corriqueiramente conhecida.) já existe há um tempo. A vizinhança inteira, também barulhenta, já está acostumada com a zoada constante dos sábado à noite. Eu não, mas relevo!
Acontece que, de um tempo pra cá, as pessoas passaram a achar o espaço de dentro, do local, pequeno demais para fazer festas. Agora fazem a rua de espaço de socialização. Quem quer ter um espaço mais reservado, vai para o meio da rua. Chega a ser irônico! Você imagina? Vários grupos de bêbados na frente da sua casa às 03:00h da manhã, gritando e fazendo algazarra. É pra fuder com a madrugada de qualquer cristão.
Há muito eu já vinha incomodado, mas nada tinha falado. Acontece que ontem eu não estava com o espírito festeiro. Sábado casmurro, se é que me entende. Tentei ligar para os dois números de telefones ostentados na fachada do lugar. O residencial ninguém atendia ( naquele barulho, quem escutaria um telefone tocar?) e o celular do dono do espaço estava desligado, acredito que intencionalmente.
Por alguns instantes pensei em ficar em casa e nada mais fazer. Deitei-me. Fechei os olhos. Não consegui. Levantei. Armei-me de meu chapéu panamá e meus óculos, para disfarçar as olheiras. Desci, passei pelas pessoas que estavam sentadas nos últimos degraus da escada de meu lar. Nem sequer as olhei. Caminhei pela calçada com um pouco de dificuldade para trafegar. Estava congestionado. Algumas pessoas me cumprimentaram. ( Penso que talvez achassem que vim para partilhar do momento.) Cheguei na porta da Academia e pedi que alguém chamasse o dono. Ninguém o fez, mas me permitiram que entrasse. O fiz.
Entrei e por alguns instantes fiquei perdido. As luzes estavam apagadas. De iluminação só havia um jogo de luz. Fiquei tonto por alguns segundos, mas prossegui caminhando, para alcançar a gerência do local, que ficava no outro extremo do salão. Segui me esquivando das pessoas que dançavam. Cheguei à porta da gerência e bati. Ninguém me atendeu. Abri uma brecha. Nesse momento a esposa do dono do lugar veio à minha direção e me perguntou ( assustada.) se havia algum problema. Aquiesci. Ela mostrou-me uma cadeira, ao lado de uma mesa desocupada e pediu-me para esperar alguns minutos. Sentei-me.
Daqui a pouco um rapaz, de estatura elevada, trajado de calça, uma camisa que não tenho certeza se era azul ou preta, me serviu uma cerveja. Falei para ele:
- Serviu enganado, senhor. Não pedi nada.
- Por conta da casa. Respondeu.
Não a abri a cerveja nos primeiros minutos. A demora era muita. Abri-a. Chegou-me o mesmo rapaz com um prato de camarão e perguntando se eu desejaria outra cerveja. Fiquei acabrunhado, mas acenei com a cabeça que sim. Trouxe-me. Deu tempo de tomar mais uma cerveja e ficar observando, agora com os olhos adaptados à escuridão, algumas sombras dançarem. O mesmo rapaz, dessa vez sem perguntar, me serviu outra cerveja e dessa vez vinha na minha direção um rapaz magro e com malandragem no caminhar. Eu o conhecia, mas naquele breu não se via a cara de ninguém. Era o dono do lugar. Levantei-me fazendo menção de caminhar à saída do espaço. Ele sentou na outra cadeira vaga da mesa onde eu me encontrava. Apertamo-nos as mãos. Ele chegou mais próximo e perguntou:
- Algum problema específico, vizinho?
- Não, querido, nada demais. A festa está linda, inclusive. Posso pedir outra porção de camarão?
- Quantas quiser. Fique à vontade. A casa é nossa!
Saiu e eu fiquei pousado naquela mesa tomando minha cerveja. Afinal era sábado, né? É dia de festa. Eu não tenho o direito de acabar com a festa daquelas pessoas. Seria desumano.
- Mais camarão, por favor, e me tragam uma cerveja gelada de verdade dessa vez!

-Gleison Nasicmento-
14/08/2012

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