terça-feira, 7 de agosto de 2012

Como DVD’s



Acho que era quinta-feira. Senti vontade de locar um filme. Pois é. Acho que faz algum tempo que o leitor não escuta nem faz o que acabei de escrever. Chamei o poeta Gleison Nascimento para me fazer companhia. Fomos andando e conversando sobre coisas que dois cronistas e velhos amigos gostam de conversar quando se encontram. Aquela locadora era conhecida nossa. Bem conhecida. Já havíamos feito aquele percurso, por aquele motivo, centenas de vezes. Tudo parecia exatamente igual. Parecia... Ao chegarmos e entrarmos naquele lugar, nos demos conta de que tudo estava muito...muito diferente. Não havia aquelas quatro ou cinco moças simpáticas e sorridentes a nos receber na porta. Só uma. Não sei se triste ou chateada, mas bastante casmurra. Ela não se moveu...como se não estivéssemos lá. Começamos a rodar e a olhar os filmes com suas capas estampadas, mas não havia muito lugar para onde ir ou muito que escolher. Dois terços daquela imensa locadora haviam desaparecido. As entradas dos outros dois antigos vãos estavam fechadas até o teto por estranhas paredes. Os filmes que vimos pareciam velhos demais para ainda serem considerados lançamentos. E a maioria deles não eram DVD’s, eram Blue-Ray’s. Senti-me numa caixa. Enclausurado. Muita coisa, ali, não sei por que, havia perdido o brilho. Não comentei com o amigo nenhuma das impressões que tive. Escolhemos os filmes. Saímos de lá e mal tínhamos chegado ao início da propriedade ao lado, o poeta me olhou e comentou com certo espanto, como aquele lugar estava estranho, diferente, sem vida. Fiquei surpreso em descobrir que eu não era o único que havia tido tais impressões. Gleison me falou coisas sobre luz, energia e vibrações. Ficamos nos perguntando o que havia acontecido. Onde aquele lugar havia deixado a sua antiga luz. As vezes, as pessoas também perdem seu brilho. Erguem paredes ao seu redor, se fecham e como resultado se tornam menores. As vezes pessoas são colocadas nas prateleiras do esquecimento e ficam por lá, juntando poeira. As vezes pessoas se tornam tristes, amarguradas e sombrias... As locadoras se tornaram ultrapassadas. Em nosso mundo há tantas tecnologias, que muitas delas se tornam obsoletas antes mesmo de serem absorvidas por todos...Eu levei três DVD’s para casa. Dois deles eu não consegui assistir, mas fiquei tranquilo. Sabia que qualquer dia desses poderia entrar na internet e encontrá-los...Pessoas não são DVD’s, não podem nem devem ser deixadas de lado por qualquer motivo. São a melhor máquina que Deus, ou qualquer outro ser que você, caro leitor, acredite, já criou... E o início de tudo, dessa presença ou ausência de luz que há em nós e em nossa vida, é obra nossa. Nós mesmos, em nosso auto-retrato,  é que nos vemos e vivemos como pessoas...ou como DVD’s.

-Danillo Melo-
 07/08/2012




Um comentário:

  1. é na percepção do dia-a-dia que se faz o cronista. O cronista é um observador dos fatos e um grande pensador. Estou acompanhado o seu desenvolvimento, os seus escritos, e não me sinto surpreso. Eu leio e sempre gosto...

    ResponderExcluir