sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Quando não se diz o que se queria dizer ou quando não se entende o que foi dito





Abri o facebook, entrei no grupo da minha turma: Letras Licenciatura Português 2012.1 e postei a respeito de um recital do qual participaria. O primeiro comentário postado foi o seguinte:

 “queria está presente. Mas escravo de minha vontade ou do não poder, o “queria” sua como algo bem distante...”.

Olhei para o texto e o reli. Não havia ninguém por perto. Eu, poeta e cronista, futuro professor de português e escritor, dotado de grande inteligência lingüística, falei para mim mesmo: entendi! Mas acho que “mim mesmo” não entendeu. Eu o ameacei dizendo que ele seria ridicularizado caso descobrissem. Ele se calou. Compactuamos. Ocultamos o nosso crime. Só nós dois sabíamos do acontecido. Não conversamos mais sobre isso. Evitamos tocar no assunto. Escrevi alguns risos na próxima caixa de comentário: huauahua. E pronto! Continuamos nossas vidas como se nada tivesse acontecido. Muitas pessoas curtiram a postagem, mas só havia dois comentários nela: a frase que o leitor leu lá em cima e o meu “huahuahuahua”. Eu e “mim mesmo” ficamos apreensivos. Ninguém mais havia achado graça?  Todo mundo tinha entendido? “Mim mesmo” quis rasgar os poemas, excluir o blog e admitir nosso fracasso lingüístico, mas fomos salvos pelo destino. A data do recital estava errada. Voltei para a postagem e fiz a correção. Depois disso, dois comentários se seguiram, a respeito do assunto da postagem. O terceiro comentário foi a nossa salvação. Segue:

“Jansuely Nascimento: Por que Julio não comenta como uma pessoa normal, hein?”

Ri absurdamente. Fiquei aliviado. Rimos litros. Eu, Jansuely, Claudia e Caio. Começamos uma aventura lingüística através da declaração “Julística” citada acima. Onde se vê “sua”, leia-se “soa”, caro leitor. Essa foi fácil. Essa foi facílima. Todo mundo troca uma letra por outra na hora de digitar, não é? Segundo Claudia, a questão não era ortográfica. Era mais além... E foi! Nossa aventura foi animadíssima. Passeamos pelo sentido das frases tentando descobrir se ele iria ou não para o evento. Eu, particularmente, gostaria de saber se o Julio vai poder me assistir no recital. Ou se ele quer. Ou se queria. Aprecio muito sua companhia e não gostaria que um enunciado nos separasse... Se alguém souber se ele vai ou não, favor me avise. Nos avise. Estamos ansiosos para desvendar esse mistério, porque nem sempre é fácil dizer ou escrever o que se quer, ou se entender o que está sendo dito, da maneira como os outros gostariam que entendêssemos. Entendeu, leitor? Parece que quanto mais aprendemos a usar a língua, mais difícil se torna dizer com exatidão o que pretendemos. Convenci a “mim mesmo” disso e ele se arrependeu de ter arquitetado o nosso fracasso. Percebi que a linguagem é fascinante e complexa. Que nós, que a estudamos, somos loucos por termos trocado a exatidão dos números por ela. É que nós a amamos, com todos os defeitos e chatices que só ela tem. É um amor bandido. O Julio é como cada um de nós, que não comentamos nada como uma pessoa normal. Descobri que é normal não entender algumas coisas, algumas vezes e que é até gostoso a busca por tentar entendê-las. Me sinto melhor agora... Recital no dia 27/11/2012. Julio, meu amigo, vamos ou não vamos?

-Danillo Melo-
19/10/2012

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