quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Eu sou um relógio


Eu sou um relógio. Vivo me debruçando sobre o meu próprio tempo. O tempo não conta ou mede a si mesmo. Ele sequer existe. O tempo somos nós. Somos ampulhetas ambulantes. Relógios andantes. Sujeitos a todo tipo de mau e bom desempenhos, como as máquinas. As vezes falta-nos pilha. As vezes gostaríamos de ser mais tempo. As vezes gostaríamos de adiantar nossos ponteiros e pular para a próxima etapa. Mas somos escravos do nosso próprio tempo. Somos auto-escravos. É ele que delineia a medida da nossa existência. É nele que encontramos e desencontramos os amores. Que prolongamos ou encurtamos a vida. Somos tempo de acordar, de "tomar o café da manhã", de fazer exercícios. Somos tempo de estudar e de trabalhar e de fazer nada. Somos tempo de amar e sermos amados, de não amar e sermos desprezados. Somos o cúmulo da contradição do tempo. Somos tempos que se atrasam. Somos tempos que não tem tempo. Reclamamos do relógio que trazemos no pulso, nos aparelhos eletrônicos ou que penduramos na parede. Mas esses são todos extensões de nós. São a representação do que somos. Somos nós os relógios que estão sempre atrasados. Nós, que somos o tempo, mas que não temos o tempo, somos senhores e escravos ao mesmo tempo. Por isso somos tão contraditórios, porque é próprio do tempo conter, em si mesmo, infinitos fatos, experiências e pessoas. O tempo não tem limites, não tem medida. As horas, os minutos e os segundos são linhas com as quais demarcamos, separamos e catalogamos a nós mesmos, a fim de nos controlarmos. Mas somos, muitas vezes, e durante muito tempo, tempos perdidos. Somos tempos sem tempo pra nada. Somos tempos que voam. Somos tempos ruins e tempos bons. Somos tempos fechados e abertos. Tempo que falta e tempo que sobra.Tempo que escreve e tempo que não apaga. Tempos livres. Tempos antigos e tempos modernos. Somos tempo parado. Tempos que mudam e que não voltam. Tempos que jamais serão os mesmos. Nós somos tempo que passa, que não morre, mas que acaba. E quando acaba, se torna como um relógio que deixou de marcar as horas.... Faz muito, muito tempo que somos tempo! E o que fizemos de nós mesmos?...

-Danillo Melo-
 20/12/2012

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