sábado, 12 de janeiro de 2013

Presente de natal.



O pequeno Antônio Carlos sentou-se ao lado do pai onde passou a tarde inteira assistindo TV.              Logo ele que, elétrico, nunca assistira TV por mais de meia hora... O pai desconfiou.
- O que tu queres, Toni? Anda, desembucha!
- Ééé... Papai... ééé... Promete uma coisa, antes?
- Prometer?
- É, papai... Prometer.
- Prometer o que, filho?
Com os olhos esbugalhados e a voz de sussuro, Antônio faz a proposta.
- Promete que não vai falar nada pra a mamãe?
- É o que, menino? Diz logo, qual a causa de tanto segredo?
- Promete?
-Ai, meu Deus, Toninho. Olha lá, moleque! Tudo bem, vai... Prometo! (Dedos cruzados)
- Papai, a mamãe me falou pra que eu não pedisse presente de natal para o senhor... Falou que o senhor entrou no emprego agora e que está apertado, no momento. Eu juro que tentei não pedir, mas é que eu quero muito um Playstation3 e eu não sei se meus outros papais vão ter grana...
- outros papais, Toni?
- Sim. Os outros papais, papai!
- No plural?
- Mais de um!
- Mais de um?
- Na verdade são dois, além do senhor.
- Conversa mole, menino... Agora deu pra arranjar pai na rua, foi?
- É sério papai... um deles até conseguiu emprego para o senhor!
- Cardoso... Filho da puta. Por isso fez tanta questão de me empregar... Canalha! Pensou alto. Quem te pôs essa idéia na cabeça, filho?
- A mamãe, ué. Todo dia, antes de dormir, ela me põe pra falar com ele.
 As lágrimas desceram.
- O que foi, papai? Fica triste, não. A mamãe sempre fala do senhor para ele. Nunca se esquece de pedir para o senhor crescer na empresa, para as coisas melhorarem aqui em casa. Digo isso porque escuto!
- Tudo bem, filho... Você já os encontrou muitas vezes?
- Na verdade eu nunca encontrei com eles, papai. Nenhum dos dois. A mamãe diz para eu ter paciência que, quem sabe, um dia posso conhecer algum deles.
- Fale mais sobre o segundo papai, meu amor...
- Ah, mal o conheço. Uma vez, por ano, a mamãe me ajuda a escrever uma carta para ele.
- E ele?
-  Nunca respondeu!
- Nunca?
- Não. Ele me traz um presente no natal, mas nem sequer aparece. Entrega a mamãe e ela põe ao lado da minha cama, para me fazer uma surpresa... Todo ano a mesma coisa, mas o senhor vai me dar o Playstation ou não, papai?
- Vai pro teu quarto, filhão. Conversamos sobre o videogame outra hora. Agora o papai precisa conversar com a mamãe, ta bom?
Dos momentos seguintes não se faz necessário um relato muito extenso. O Antônio Carlos ficara em seu quarto o resto do dia e, provavelmente, ouvira tudo o que foi gritado por seus pais, na sala. Entre gritos e lágrimas se findara, naquele início de noite, mais um casamento e nascera mais um filho de pais separados.
Quando o pai do pequeno Antônio Carlos adentrara em seu quarto, encontrara o filho ajoelhado aos pés da cama, de olhos fechados e lágrimas constantes.  O menino nem, sequer, olhou para trás quando recebera um beijo na cabeça e ouvira seu pai dizer que estava indo embora, bater a porta e sair pelo mundo.
- Papai do céu, avisa pra o papai Noel que não quero mais um Playstation 3. Eu só quero que vocês façam meu papai voltar pra casa... Prometo que pra o resto da vida, não peço mais nenhum presente...

- Gleison Nascimento-
12/01/2012

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