quarta-feira, 4 de julho de 2012

(Des)Conhecidos

Eu já havia visto aquela moça ali umas duas vezes. Era o ponto de ônibus mais próximo da minha casa. Todos os dias eu estava lá, esperando o ônibus para ir ao trabalho. Como das outras vezes, eu olhei para ela e lembrei- me do seu nome: Lívia. Ela havia estudado comigo. Não conseguir me lembrar em qual colégio ou série, nem se éramos bons amigos...mas eu sabia seu nome. E lembrar de um nome com tanta rapidez e nitidez é o primeiro indício de que aquela pessoa marcou você, de alguma maneira. Fiz esforço pra lembrar mais do que o nome e do fato de termos estudado juntos. Não consegui ir mais além. Fiquei intrigado. Olhei para ela e pensei: "Seu nome é Lívia, não é?...Você lembra de mim? Já estudamos juntos..." Eu iria somente tocar nela e depois pronunciar esse pequeno início de diálogo. Achei o diálogo e a idéia ridículos. Sabia que seu nome era aquele. Sabia que a conhecia. Tinha certeza...Subimos no mesmo ônibus. Ela subiu na frente e tirou a carteira de estudante e o cartão da passagem do bolso. Quando ela estendeu a mão para a máquina fazer a leitura, eu fitei a carteira...Seu nome: Lívia. Passamos a catraca e eu escolhi um lugar um pouco longe dela para sentar. Fiquei com vergonha de olhar para ela com cara de idiota e ela não me reconhecer. Fiquei com vergonha dela me conhecer e depois se sentir mal por eu não ter iniciado uma conversa. Depois fiquei com vergonha de ter sentido tanta vergonha. Abri a bolsa, tirei um livro e comecei a ler Chico Pedrosa, dividindo meus pensamentos entre os poemas que lia e aquela conhecida, tão desconhecida, sentada alguns bancos atrás. Lembrei-me, então, de Gustavo, Elizabeth, Tâmara, Rodolfo e outros. Tanta gente com quem estudei e fiz uma amizade...De alguns, eu até lembro o sobrenome. Há outros que ainda tem, comigo, histórias arquivadas na memória, vivas nas lembranças...Eles eram meus amigos...Eram?...Senti que os conhecia, mas não os conhecia... Lívia e tantos outros, foram amigos importantes, que fizeram parte de momentos grandes e pequenos da história da minha vida e mesmo que, de alguns, eu só lembre o nome e o rosto, sei que eles fizeram parte dessa história. Onde eles estão agora? Será que lembram de mim? O que acontecerá se eu encontrar alguns deles no Shopping, no jogo do Sport, no cinema, no show de mpb? Talvez possamos nos reconhecer e acenar com a mão, sorrir, dar um oi ou até parar por 30 segundos, nos perguntar como  estamos e irmos embora...Claro que há muitos, de muito tempo atrás, mesmo de tão longe, que são tão amigos hoje quanto o eram antes, com o mesmo fervor, intimidade e empatia. Mas eu sinto pelos outros,pelos que, por algum motivo, são quase completos desconhecidos para mim e eu para eles. Por que com eles também não é assim: um retorno à amizade antiga como se nada tivesse acontecido e os laços ainda estivessem intactos?...Fechei o livro de poemas e pensei no tempo. Quando ele passa, ele leva alguns nomes, lugares, momentos e até pessoas! Fiquei triste por mim e por ele, ambos tão mesquinhos nessas questões e desejei que a memória e os laços, não se desfizessem com o passar dos anos. Desejei conservar os amigos que hoje tenho e somar a eles os amigos que sempre tive. Os amigos de hoje, não quero encontrá-los na rua, daqui a 10 anos, depois de tão bem conhecê-los, e assistir-nos sendo quase completos desconhecidos...Não quero encontrá-los, como encontrei Lívia e agir como agi, levando comigo tristeza, nostalgia e uma razão para escrever uma crônica...

-Danillo Melo-
 04/07/2012

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