Procurei o
“H” no dicionário. Encontrei-o, gigante, em letra de fôrma, maiúsculo, no
centro superior da folha. Abaixo dele, no canto esquerdo, um “h” minúsculo
sofria definição: “A oitava letra do alfabeto da língua portuguesa”. O menor,
parecia tímido, triste e esquecido. O maior, revoltado, fazia as malas para ir
embora. O alfabeto, como um bom pai que é, ficou triste. Lhe sobrariam, apenas,
25 filhos para tomar conta. O “H” chamou a família, explicou aos irmãos mais
jovens, o K, o W e o Y, o motivo da partida anunciada e mandou pôr outra letra
no seu lugar, no dicionário. Todos sentiram que faltaria um “Q” de “H” naquela
casa. O “H” sentou-se no “h” minúsculo e começou sua defesa:
“Eu não
sirvo pra nada. Quase nunca servi. Quando eu era jovem, precisavam de mim na
Pharmacia, por exemplo, e em outras palavras importantes. Hoje, como no hoje, não
tenho sequer um som. Sou a representação gráfica de algo que não existe, que foi
deixado ali, talvez, por pena. Me sinto como a Rainha da Inglaterra, pousando
na varanda, fingindo que lidera tudo, mas sem mandar em nada. Chamem o “R”, por
favor e deixem que ele cuide dos “hamsters”,
dos “hackers” e de quaisquer outras palavras, estrangeiras ou não, que
necessitem desse som. Ele fará este trabalho melhor do que eu. Partirei, o mais
rápido possível, para uma terra estrangeira, onde eu possa contribuir,
substancialmente, para o léxico...”
Foi
extremamente triste! O “H” havia perdido a honra. Na verdade, a honra havia
perdido o “H”. E foi ela a primeira a se pronunciar. Saiu de onde estava,
voltando algumas páginas, e foi bater no começo da lista das palavras que
começavam com “H”. Falou que sem ele estava desonrada e cobrou consideração...
O homem, com “H” maiúsculo, disse que sem o “H”, poriam em xeque sua
masculinidade e virilidade...O hidrogênio não existiria mais. Ficou arrasado...
A hora reclamou que viraria outra palavra e também deixaria de existir, e que,
por isso, o tempo não passaria... O verbo haver perdeu o passado e ficou
triste...Uma a uma, as várias palavras envolvidas foram se apresentando e
defendendo a permanência do “H” no dicionário brasileiro. Todas as palavras se
amontoaram , tentando chegar até aquela página, para pedir ao “H” que ficasse.
Milhões de hzinhos imploraram que ele não fosse embora. O dicionário ficou
enxuto aquele dia...
O “H” ficou
mudo. Percebeu que, sem ele, não haveria mais ganhos. As pessoas perderiam seus
olhares, os dias ficariam sem manhãs, os pais perderiam seus filhos e o mundo
perderia seus sonhos. Recobrou a voz e a honra e terminou a revolução. Retomou
a frente das palavras que tanto reclamavam sua volta e retornou para o centro
superior da página, altivo, cheio de pompa e imponência, assim como os “H’s”
são...
-Danillo
Melo-
14/11/2012
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