sexta-feira, 11 de maio de 2012

A cama e o travesseiro

Me pediram pra escrever um poema sobre o assunto. Não escrevi. Não consegui nem conceber a ideia de um soneto sonâmbulo ou um soneto sonífero. Mas uma crônica, sim. Foi quase instantâneo. Meus olhos brilharam.
Muito de tudo que agente faz gira em torno da cama (sem segundas intenções, por favor). Da cama ou de algo que a represente. Eu falo do sono e da experiência de dormir. Estão entre as coisas melhores que existem. Dormir é um apetite insaciável. Uma droga que usamos, a maioria de nós, toda noite e muitas outras vezes durante o dia. É a meta maior de todo trabalhador e estudante devoto, mas eles quase nunca a alcançam. Porém é aí onde repousa a magia do sono. Onde repousa, não. Onde dorme! Quase todo mundo tem essa sensação de não ter dormido o suficiente. Sempre falta algo pra tornar a dormida completa. Só o Drácula dorme o suficiente. Bom mesmo é ser vigia: dormir em casa e no trabalho. Também há quem tire férias pra dormir e quando volta pro trabalho reclama que não conseguiu. Ô vida difícil!
Existem tantas “camas” por aí. Rede, esteira, areia da praia, banco de carro. Mas tem gente que só dorme se tiver uma cama e um travesseiro e gente que faz qualquer coisa de travesseiro. As mulheres adoram dormir no ombro. Tem gente que não dorme em “cama” nenhuma. Dorme em pé mesmo (e nesse caso nem há travesseiro). Nos ônibus e metrôs. Acho que descobri quando é que as pessoas dormem em São Paulo...
O sono também participa do namoro. O sujeito vai pra casa da namorada. Ele mora em Olinda, ela, em Boa viagem. Ele passa toda a boa viagem dormindo, com aquele balanço de ninar que só os ônibus tem. Ele desce no ponto errado, volta andando e esfregando os olhos pra se recompor. Chega na casa, entra, fala com todo mundo, diz que vai dar uma relaxada por conta do calor que faz lá fora, depois deita na cama e dorme. Pior que isso é mulher dormindo. Tem umas que acordam de mau humor e outras que se forem acordadas, colocam quem as acordou em risco de morte. Homens, antes de acordá-las, mesmo que com um beijo, se certifiquem de que não vão levar um soco.
Tem gente que só dorme no silêncio absoluto. Esses precisam de uma estufa. Mas tem gente que dorme até no meio do Galo da Madrugada, em pleno sábado de carnaval. Quem tem sono leve, acorda com o barulho dos ratos na cozinha. Quem tem sono pesado, não acorda pra ver a banda passar, porque não a ouve passar. Os pais, com certeza, tem sono leve, ou melhor dizendo, as mães tem sono leve. Os pais tem sono pesado. Você diz que vai voltar da festa às 23:30h. Às 02:30h você gira a chave e entra na ponta dos pés. Você ouve o seu pai roncando e, nessa hora, isso é música pros seus ouvidos. Aí você liga a luz da sala e... “Mãe”! ...
Quando criança, li, com a minha irmã, um livro infantil no qual um garoto dizia que o motivo do sono pesado era um elefante que teimava em ficar em cima dele. Concordamos que eu tinha um em cima de mim, todas as manhãs, antes de ir pro colégio. O pior é que ele não saiu ainda.
Um dia, voltando da escola, no ônibus, eu sentia fome, cansaço, calor e, é claro, sono. Dormia tão bem que cada vez que o ônibus balançava, eu balançava junto e quando ele balançava demais, eu batia com a cabeça nos vidros da janela. Aí eu abria os olhos por uns dois segundos e dormia novamente. Depois da cena se repetir algumas vezes, acordei e olhei ao redor. A mulher que estava em pé, ao lado de onde eu estava sentado, não conseguia conter o riso. Olhei ao redor, mais uma vez, pra saber se mais pessoas haviam presenciado aquilo e de tão constrangido, voltei a dormir.

Danillo Melo
11/05/2012

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