quarta-feira, 30 de maio de 2012

Exilado.


Este mês estávamos eu, a Cleide Martins e a Lívia França assistindo um espetáculo do Allan Sales, no Pátio de São Pedro. Estávamos planejando ir comer algo. Não tínhamos jantado, a fome nos afligia. Quando nos dirigíamos à saída do pátio, o Allan me convidou ao palco para fazer uma participação no espetáculo. Voltamos, subi (e a fome só aumentava!) e fiz uma pequena participação... Desci correndo do palco!
Antes que eu chegasse às duas – que me esperavam.- fui abordado por um rapaz, que eu conhecia, ao menos de vista, só não sabia de onde. Ele aquiesceu com a cabeça ( fiz o mesmo)  enquanto vinha na minha direção.. Assim que me alcançou foi logo estendendo a mão e perguntando:
- Meu irmão, você é do Caiara não é, meu velho?
Caiara é como é conhecido popularmente o bairro –recifense- da Iputinga, onde eu nasci, cresci e resido até hoje. Era um conterrâneo, o rapaz. Daí abri o sorriso, também estendi a mão e lhe falei com ar receptivo :
- Sou da Iputinga sim, meu caro!
Ele me olhou com ar desapontado. Não entendi.
-Fiz merda. (Pensei!)
Eu só não sabia qual era a merda que tinha feito. Olhei-o esperando alguma resposta. O camarada me olhou fundo nos olhos ( até esqueci a fome!) como nunca antes ninguém olhou e me disse:
- “Meu caro”? No Caiara ninguém fala assim, malandro.
Virou-me as costas e foi embora. Senti-me um bosta! Parecia, aquele rapaz, um imperador exilando um traidor de sua terra. Privando-lhe de todos os direitos de cidadão daquele chão. Fiquei sem chão!
Como posso desonrar tanto minha terra? Falar um português correto é coisa de fracos. Povo de terra alheia. No Caiara não. Não se trata ninguém por “Meu Caro”. A não ser que o queira ofender!
É como chamar todo nordestino de Cearense. Burrice! Eu devia tê-lo tratado melhor.
- Manda a boa, meu Bróder. Pode crer. Caiara é tudo nosso! Tá ligado?
Essa sim é a forma correta e culta de se tratar um conterrâneo.
Meu Caro? É coisa de gente metida a bacana. É negócio dessa gente intelectual.
Fui-me embora penar meu exílio ao lado de duas mulheres lindas e agradáveis numa pizzaria!
Obs: A pizza de frango tava o pipoco. Maior firmeza, ta ligado?

-Gleison Nascimento, 30/05/2012-

domingo, 27 de maio de 2012

Pobre velha infância!!!

O Seu Arlindo era um velho calado, tinha a pele avermelhada e, se me lembro bem, um vasto bigode. Ele morava num barraco de madeira, em cima da calçada, encostado ao muro do colégio, na esquina da rua. Seu barraco era menor que o meu quarto. Mal cabia uma cama lá dentro. Agente era criança. Agente gostava de roubar goiaba. " Arlindo, deixa agente pegar goiaba!" Ele dizia que sim com a cabeça e quando agente subia...shuááááá...era um balde d'água no corpo. E quando não era água, ele deixava o tronco do pé de goiaba todo melado de graxa. Quem subia, escorregava. Agente ria pra caramba.
André era o dono de um sítio, que ficava numa rua sem saída, dentro da nossa rua. Agente pulava o muro e ia pegar azeitona roxa. Tinha manga também. Duas frases eram o sinal de retirada: "Lá vem André!" e "Os cachorros tão soltos!" Quando alguém gritava uma das duas, todo mundo saía correndo. Era menino pra tudo quanto é lado. Até hoje eu tento entender como se consegue descer de uma árvore enorme e pular um muro relativamente grande tão rápido. O sítio que ficava ao lado do sítio do André não tinha muro. Ele se chamava "o sítio". Agente pegava coco, cajá, saputi, jaca e tamarindo. Ninguém expulsava agente de lá. Agente jogava bola toda hora, até mesmo na chuva, caindo nas poças de lama. Depois era só voltar pra casa, entrar no banheiro sorrateiramente, jogar a roupa molhada no cesto das roupas sujas e sair limpinho. "Oi, Mãe! Que calor, né?!"
Seu Dinho vendia fogos! Agente comprava um monte de rojão e ia estourar na porta da "mulher da galinha". É que ninguém gostava dela. Ela era chata, reclamava de tudo, brigava por tudo, xingava todo mundo. Agente estourava a bomba e saía correndo. E quando alguma mãe mandava algum filho ir comprar galinha lá, ninguém gostava. A "mulher da galinha" ficava desconfiada, tentando lembrar dos rostos e quando ela lembrava... " Eu vou falar com a sua mãe!!"
Seu Dinho , em Janeiro, acordava todo mundo de madrugada, com os fogos de artifício. Era o mês de São Sebastião. Ia ter parquinho, pagode, missa e mais um monte de coisas. Era só festa. Ele também entregava os doces de Cosme e Damião. A rua não era calçada. As vezes, tinha até pau-de-sebo. Agente jogava bola de gude, futebol e rodava pião no meio da rua. Quem quisesse andar de patins tinha que ir pra "pistinha" ou a "pistinha nova", porque lá era tudo calçado com piche. No bar de Raquel tinha fliperama ou playtime. Agente jogava The King of Fighters, Cadilac Dinossauro, Metal Slug e otros jogos legais. Pra jogar Super Nintendo ou PlayStation 1,tinha que ser na esquina, na casa de Seu Louro.
Tinha uma outra rua sem saída. Essa se chamava "a outra rua". Tinha como chegar lá sem precisar ir até a esquina, pegar a avenida no sentido Caxangá e dobrar a primeira à esquerda. Da nossa rua, agente passava pelo quintal de um monte de casas até dar na "outra rua". E no caminho tinha carambola, uma velha que jogava mijo em quem passava no beco de sua casa e um homem, deficiente físico e mental que toda vez que alguém passava ele apontava o dedo, como se fosse um revólver, e gritava: "Pá!!!"... Ele ficava logo no quintal da primeira casa e quando ele estava lá, a maioria de nós voltava e seguia em direção à esquina...
A brincadeira mais famosa era o "garrafão". O garrafão (uma garrafa PET com um terço dela cheio de areia) ficava no meio da rua. O "zerinho ou um, americano" (nem sei porque tem esse nome) definia quem seria "o bobo". Alguém bem forte ia lá e chutava o garrafão. O "bobo" ia correndo buscar e enquanto isso, todo mundo se escondia. Aí ele saía pra procurar todo mundo e quando achava alguém, ele tinha que voltar correndo, bater com o garrafão no chão e dizer o nome da pessoa. Se ele se descuidasse, alguém poderia chutar o garrafão novamente e ele teria que buscar de novo e a brincadeira recomeçava. Ele só deixaria de ser "o bobo"  depois que encontrasse todos que houvessem se escondido e o primeiro a ser encontrado tomaria seu lugar. O jogo durava horas! Havia mais de 10 garotos jogando ao mesmo tempo. A gritaria era enorme. E se alguém fosse chamado no meio da brincadeira, era o fim do mundo. A choradeira era grande. A tristeza era infinda.
Em toda turma tem uma criança que é um pouco má. Na nossa era o Mazinho. O apelido dele era Mauzinho. Ele gostava de amarrar as crianças menores, dar pão com pimenta pra elas e colocá-las pra brigar. As mães não queriam, obviamente, os filhos com ele. Os outros apelidos também eram legais. Tinha Bolo, Tonho da Lua, Léo Pirata, Bacia e muitos outros. Agente tinha uma maneira própria de se comunicar. Era um tipo de assobio que agente usava em comum e uns sons estranhos que agente fazia com a garganta. Dava pra entender tudo. Agente reunia a galera, todo mundo perfumado, cabelo penteado e bermuda com a camisa ensacada na frente e solta atrás e depois agente ia dar uma volta no bairro, de bicicleta ou a pé, pra conhecer e conversar com as meninas...
Um dia desses sentei na calçada, com dois amigos de infância ao meu lado e lembrei disso tudo e de outras coisas mais. A infância passou e as crianças cresceram. Toda criança vai ser um adulto, um dia. Só se vive a infância uma única vez. É a ordem natural das coisas. Não há motivos pra tristezas, só para uma boa nostalgia. Mas o que não é natural e é muito triste é que parece que a infância também cresceu. Há coisas em nossa rua que ainda estão lá. Há muitas pessoas, citadas acima, que ainda estão lá. E ainda existem crianças em nossa rua, mas a infância, ela parece que cresceu. Parece que se tornou velha, impura e burra, como os adultos...
 Sentado na calçada, eu vejo. Eu vejo crianças que trabalham como adultos, que são rudes como adultos, que chamam palavrões como adultos, que ouvem e dançam músicas como adultos, que falam e até desejam sexo como adultos, que cuidam de crianças como adultos...diante disso, eu choro, em meu âmago, de alegria, pela nostalgia que sinto e de tristeza, pela perspectiva do futuro... Por isso, eu me pergunto: Quem a achará?... Em qual brincadeira de garrafão ficou escondida a infância? ...

-Danillo Melo-
 27/05/2012


sexta-feira, 18 de maio de 2012

Professor!! Tudo bem?!

Atrasado para o casamento de um dos meus melhores amigos, desci do ônibus, rapidamente, e percorri a parada a passos largos... foi muito rápido! Depois de tanto estudar sobre Bakhtin e o dialogismo e os textos e os discursos e os enunciados, dei-me conta de que posso ter compreendido esses complexos conceitos naquele noite. Ele estava lá, sentado,como eu costumava vê-lo em sala. Eu o conheci de longe. Estava rodeado por algumas pessoas. Corri em sua direção e estendi-lhe a mão com o olhar de admiração de sempre. O enunciado foi: "Professor!!Tudo bem?!" Ele me olhou um pouco admirado, apertou a minha mão e respondeu: "Tudo!" Então eu fui embora com a mesma rapidez com que havia chegado. Era o professor Tomaz! Uma parte do enunciado era claro: aluno cumprimenta professor. Todo o resto estava, mas não estava lá.  Professor!! Tudo bem?! Lembra de mim?...acho que não! Eu sou um dos muitos alunos que o cumprimentam na rua. Talvez um que você não se lembre, exatamente, quem é. Mas sou mais um que foi enfeitiçado pelas fantásticas aulas de literatura que o senhor nos concedia. Não faz mal se não lembrar de mim. É uma honra poder apertar sua mão e sentir que está bem. Poder olhar os seus olhos cheios de vida. São só cinco minutos do lugar onde o encontrei até o meu destino, mas pude pensar em o quanto suas aulas me inspiraram e me incentivaram a buscar e realizar meus sonhos. Quase consegui ouvir você recitando belíssimos poemas. Visualizei o garoto que queria ser escritor,lhe mostrando os poemas que havia feito e esperando com ânsia as suas críticas. Ele ainda escreve e ainda sonha em se tornar escritor. Não lhe contei que estou cursando Letras? Pois é! Tem sido uma experiência incrível! Queria dizer obrigado! A moça que fazia parte do grupo ao seu redor sorriu quando o cumprimentei. Pensei ser ela mais uma que admira e compreende a influência gigantesca do seu trabalho. Espero que a pressa não tenha escondido a gratidão dos meus olhos. Os seus, me diziam que, assim como eu, você iria compor uma crônica ou então iria contar o episódio ao seus alunos, como uma  boa anedota. Talvez você não saiba, mas eu não sou só um antigo aluno que reconheceu seu rosto. Eu sou um dos frutos do seu trabalho. Alguém que deseja, assim como você, ser um professor, um formador de opinião, um influenciador de destinos. E quem sabe, no futuro, eu possa ser cumprimentando por alguém na rua que me diga: Professor!!Tudo bem?...E eu, assim como você, responda à altura: "Tudo"!


-Danillo Melo-
15/05/2012

terça-feira, 15 de maio de 2012

Cuscuz é cuscuz!


Desde que o mundo é mundo, cuscuz é comida típica de nordestino... Isto é um fato!
Nada mais gostoso que um prato ( fundo) de Cuscuz depois de um banho matinal... O acompanhamento é o de menos. Pode ser carne de sol, charque, leite, manteiga... E um cafezinho preparado na hora. Cuscuz é bom com qualquer coisa!
Cuscuz para ser cuscuz tem que empanzinar a quem lhe come. Tem que deixá-lo fartado, jogado ao sofá com cara de maresia! Comer um pouco de cuscuz é como tomar banho e andar descalço. De nada adianta!
Eu venho observando há um tempo nos restaurantes que se intitulam “ Nordestinos” ( Redundância. Todos os restaurantes enraizados no Nordeste, são nordestinos... Você há de concordar. É como “Brasileiro do Brasil”!) e uma coisa sempre me chama atenção. O Cuscuz!
Por que os cuscuzes, dos restaurantes, vêm com aquela forma de morro? Horrível, nem parece cuscuz. Você já deve ter visto. Aquilo é um desrespeito ao cuscuz... Deve ser estranho até para comer!
Eu nunca pediria um cuscuz daquele. Cuscuz tem que ser livre. Espalhado pelo prato inteiro, para esbanjar o seu amarelo tão nobre! Essa comida andrógena que os restaurantes insistem em chamar de cuscuz não consegue ter a imponência do cuscuz que minha avó preparava quando eu era criança. Não consigo ter respeito por um morro amarelo com charque (Desfiada e desmoralizada.) ao seu redor. Perdoem-me, mas não consigo... Cuscuz é macho, porra!
Mostrei a minha indignação ao Thiago Martins... Falei mesmo. Ele concordou comigo e ainda falou mais:
- É um peitinho, cara!
Isso mesmo, um peito... Ele (que provavelmente já pediu cuscuz em restaurante!) me viu com cara de quem está totalmente por fora do assunto e completou:
- Aquele monte amarelo... Pronto! Tem um bico em cima. É um seio.
Deprimente. Quem foi o maníaco que decidiu moldar o cuscuz em formato de seio?  Você consegue imaginar? Tarado... Ainda desmoraliza o coitado do cuscuz!
Daqui a pouco ninguém pede mais cuscuz...
- Garçom, hoje eu quero um peitinho com jabá...
Parece uma posição sexual. Ninguém perguntou ao cuscuz se ele queria virar um seio... Nem mesmo tiveram coragem de fazê-lo um busto! Transformaram-no um seio solitário e humilhado!
Malditos restaurantes “nordestinos”... Descaracterizam  o Nordeste e seu cuscuz!

- Gleison Nascimento, 16/05/2012-

sexta-feira, 11 de maio de 2012

A cama e o travesseiro

Me pediram pra escrever um poema sobre o assunto. Não escrevi. Não consegui nem conceber a ideia de um soneto sonâmbulo ou um soneto sonífero. Mas uma crônica, sim. Foi quase instantâneo. Meus olhos brilharam.
Muito de tudo que agente faz gira em torno da cama (sem segundas intenções, por favor). Da cama ou de algo que a represente. Eu falo do sono e da experiência de dormir. Estão entre as coisas melhores que existem. Dormir é um apetite insaciável. Uma droga que usamos, a maioria de nós, toda noite e muitas outras vezes durante o dia. É a meta maior de todo trabalhador e estudante devoto, mas eles quase nunca a alcançam. Porém é aí onde repousa a magia do sono. Onde repousa, não. Onde dorme! Quase todo mundo tem essa sensação de não ter dormido o suficiente. Sempre falta algo pra tornar a dormida completa. Só o Drácula dorme o suficiente. Bom mesmo é ser vigia: dormir em casa e no trabalho. Também há quem tire férias pra dormir e quando volta pro trabalho reclama que não conseguiu. Ô vida difícil!
Existem tantas “camas” por aí. Rede, esteira, areia da praia, banco de carro. Mas tem gente que só dorme se tiver uma cama e um travesseiro e gente que faz qualquer coisa de travesseiro. As mulheres adoram dormir no ombro. Tem gente que não dorme em “cama” nenhuma. Dorme em pé mesmo (e nesse caso nem há travesseiro). Nos ônibus e metrôs. Acho que descobri quando é que as pessoas dormem em São Paulo...
O sono também participa do namoro. O sujeito vai pra casa da namorada. Ele mora em Olinda, ela, em Boa viagem. Ele passa toda a boa viagem dormindo, com aquele balanço de ninar que só os ônibus tem. Ele desce no ponto errado, volta andando e esfregando os olhos pra se recompor. Chega na casa, entra, fala com todo mundo, diz que vai dar uma relaxada por conta do calor que faz lá fora, depois deita na cama e dorme. Pior que isso é mulher dormindo. Tem umas que acordam de mau humor e outras que se forem acordadas, colocam quem as acordou em risco de morte. Homens, antes de acordá-las, mesmo que com um beijo, se certifiquem de que não vão levar um soco.
Tem gente que só dorme no silêncio absoluto. Esses precisam de uma estufa. Mas tem gente que dorme até no meio do Galo da Madrugada, em pleno sábado de carnaval. Quem tem sono leve, acorda com o barulho dos ratos na cozinha. Quem tem sono pesado, não acorda pra ver a banda passar, porque não a ouve passar. Os pais, com certeza, tem sono leve, ou melhor dizendo, as mães tem sono leve. Os pais tem sono pesado. Você diz que vai voltar da festa às 23:30h. Às 02:30h você gira a chave e entra na ponta dos pés. Você ouve o seu pai roncando e, nessa hora, isso é música pros seus ouvidos. Aí você liga a luz da sala e... “Mãe”! ...
Quando criança, li, com a minha irmã, um livro infantil no qual um garoto dizia que o motivo do sono pesado era um elefante que teimava em ficar em cima dele. Concordamos que eu tinha um em cima de mim, todas as manhãs, antes de ir pro colégio. O pior é que ele não saiu ainda.
Um dia, voltando da escola, no ônibus, eu sentia fome, cansaço, calor e, é claro, sono. Dormia tão bem que cada vez que o ônibus balançava, eu balançava junto e quando ele balançava demais, eu batia com a cabeça nos vidros da janela. Aí eu abria os olhos por uns dois segundos e dormia novamente. Depois da cena se repetir algumas vezes, acordei e olhei ao redor. A mulher que estava em pé, ao lado de onde eu estava sentado, não conseguia conter o riso. Olhei ao redor, mais uma vez, pra saber se mais pessoas haviam presenciado aquilo e de tão constrangido, voltei a dormir.

Danillo Melo
11/05/2012

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Coitado do Mario Prata.


Manter a atenção sempre foi, para mim, um assunto delicado. Não consigo prestar atenção em duas coisas ao mesmo tempo, eu nunca consegui. Comer e estudar?Ou eu como, ou eu estudo. Falar e escrever?  Cara... A dialética e a escrita necessitam de uma atenção específica, cada uma.  Você consegue chupar cana e assobiar ao mesmo tempo? Pois é.  Na minha cabeça, é algo impossível, por exemplo,  jogar vídeo game e conversar de política ao mesmo tempo.
- O Ministro da justiça, Ronaldinho Gaúcho...
Entende? Não dá. Esta semana eu estava voltando de um recital poético que fizemos ( eu, Clécio Rimas e Allan Sales.)  no Sesc de Santa Rita, no recife antigo. No ônibus eu, compenetrado, lia algumas crônicas do livro Cem melhores crônicas, de Mario Prata, no meio da leitura o telefone toca.  Uma mensagem. Lívia França. (minha namorada.) Estamos sempre trocando mensagens... Diminuindo a distância imposta pelos horários que não se batem. Sabe como é, né?
 Então... Comecei a fazer as duas coisas. Respondia a mensagem, voltava à leitura... O telefone tocava, eu respondia a mensagem e voltava a ler... Daqui a pouco eu não conseguia mais entender o que o Mario me dizia nas páginas, ali na minha frente. Tentava me concentrar. Em vão!
Aquilo tinha se tornado uma disputa da minha atenção... De um lado o Mario Prata, Exímio dominador da retórica, do outro a Lívia, tão linda... Juro que tentei me dividir. Não deu! Depois da terceira mensagem eu já tinha deixado o Mario de lado. Como? Mario? Que Mario?
Coitado... Não que o Mario não tenha atrativos. Ele me deixa de olhos fixados em seus escritos sempre que o leio... Melhor, quase sempre! É, de fato, uma disputa desleal. Tenho certeza que ele não ficaria chateado comigo quando a visse sorrir. Entenderia rapidinho as razões pelas quais não lhe dei a devida atenção, naquela ocasião.
O Mario que me desculpe, mas sempre que a disputa for essa trocarei suas cem melhores crônicas por algumas mensagens ainda melhores!
Falando nisso, me dêem licença... Acabei de receber uma mensagem!

-Gleison Nascimento, 11/05/2012.-

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Algo Notável

Um dia conversava com o poeta e amigo Thiago Martins! Falávamos sobre música, que é tema quase espontaneamente obrigatório em nossas conversas. Conversávamos sobre alguém que conhecemos cujo talento é belo e inquestionável, mas que, além de todas as honras merecidas que recebe, deveria, ao nosso ver, receber ainda mais espaço e notoriedade como artista. Nos perguntávamos o porquê disso e de outras questões afins. Revelei, então, ao poeta, o título dessa crônica e disse-lhe que já tinha em mente discorrer sobre o assunto. Meu objetivo aqui, no entanto, não é encontrar ou dar respostas sobre qualquer coisa. Eu sou um cronista, não um cientista. Meu objetivo é cronicar!
Como se mede a importância de alguém? Se mede a importância de alguém?...Pois bem...No mundo de hoje é importante ser conhecido. Mas ser conhecido pelo quê?...Não sei! Não importa! O que importa é ser conhecido. E talvez isso seja, para muitos, até mais importante que ser rico. Porque nem todo rico é conhecido, mas todo conhecido pode acabar ficando rico. E todo conhecido é reconhecido por um feito, um feito notadamente notável ou notadamente fútil. Hoje em dia, parece que ninguém mais faz algo notável. Só parece! É que por "n" motivos, muitas pessoas e feitos notáveis estão na sombra da sociedade, enquanto há toda sorte de bobagens,idiotices e futilidades nas telas das TV's e nos holofotes da fama brilhando como se apontassem o caminho do futuro que os nossos jovens devem seguir. É  muita porcaria sendo patrocinada, financiada e defendida. Antigamente, muitas mulheres ficavam famosas mostrando a bunda. Hoje também. Mas agora é preciso bem menos: basta você postar na internet uma coisa bem burra, bem idiota que vc fez  e filmou e pronto! Você vira um fenômeno nacional. E isso vai abrir as portas pra sei lá o quê na sua vida.
Tem tanta coisa pra fazer nesse mundo que é muito fácil agente perder um montão de tempo fazendo nada, ou fazendo merda, que é quase a mesma coisa.
Pra que aquilo que você faz seja considerado importante, primeiro você precisa se tornar importante. E nem adianta achar que eu sei qual o critério pra isso. Não sei. Há muitas crianças em nossas escolas estudando sobre Einstein, Newton, Sócrates, Platão, Machado de Assis, Lima Barreto(que quando era vivo, era um bêbado, que cometia erros gramaticais e se achava escritor e depois de morto, se tornou um dos gênios da nossa literatura). E parece que na mente desses jovens, esses personagens são lendas, mitos, pessoas e feitos extraordinários que não existem e não irão existir mais. Para mim, há muitos "Einsteins" por aí, sem saberem que o são(ou não), potencialmente capazes de serem lendas vivas, como tantos outros, na história da humanidade. O que quero dizer é que muitos estão sendo subestimados, vistos aquém de sua genialidade ou capacidade.Isso sem falar nos simples e anônimos, mas notáveis, feitos. " A simplicidade é a sofisticação suprema" alguém disse.Não é o tema desta crônica, hoje, mas acredito que há pessoas e feitos tão ou mais notáveis que uma estrela do rock, um ícone da literatura ou uma música número um nas paradas... Um dia, assistindo ao show de Gilberto Gil e Caetano Veloso pela TV, falei a minha mãe, que me acompanhava: "um dia eu vou estar aí..." . "Se Deus quiser, meu filho.." disse ela. E eu sorri orgulhoso, me sentido à altura dos mestres vivos que tanto admiro. Em outra ocasião mostrei a alguém uma música que eu compusera a algum tempo atrás..." Foi você que fez?? É sua??"  disse a pessoa admirada. Sorri sem saber se a admiração era pela qualidade da música, pela descrença no sujeito que não parecia nada com um compositor de boa música popular ou as duas coisas. Nem perguntei...fui pra casa escrever outra música, ou escrever uma crônica....fazer alguma coisa...algo bom...ou quem sabe...algo notável...

-Danillo Melo-
 02/05/2012

terça-feira, 1 de maio de 2012

Os donos da rua.


Estávamos, eu e alguns amigos, voltando de uma calourada que
acontecera no campus da UFPE. Dirigíamo-nos à rua da moeda, Recife
Antigo, na intenção de assistir a um show que aconteceria por ali.
Quem, em sã consciência e vigor físico, vai querer se recolher em
casa, numa sexta-feira, antes das 00:00h?  Sexta-Feira é dia de não
voltar para casa. É dia de: - Mãe, até amanhã!
A essa altura tentávamos estacionar nas redondezas... Achamos uma vaga
perto do Paço Alfândega, ótimo lugar pra estacionar apesar da mórbida
iluminação. Meia luz. Efeito? Não. Descaso público, mesmo!
Enquanto o Kerlle de Magalhães fazia a baliza para estacionar (na vaga
apertada!), a Marina Fenicio se soltava do cinto de segurança que
ainda não se acostumara a usar (Usa pela minha insistência na
prevenção de todos, principalmente das multas!) e o Fernando Bessony
nos contava, super entusiasmado... Quase a cantar, os detalhes da
palestra de um roteirista famoso, que por sinal é seu xará (Fernando
não sei das quantas!), que ele tinha assistido no início da noite,
percebi que, do outro lado da rua, alguém tinha notado nossa chegada e
estava atravessando a pista em nossa direção.
O rapaz magro, com o chapéu fazendo sombra ao rosto, ficou esperando
que terminássemos a baliza. Assim que o Kerlle parou o carro, o rapaz se
estacionou perto da porta do motorista. Descemos todos!
Confesso que não ouvi o que ele falara ao Kerlle. Na verdade, só
entendi o que o rapaz queria quando já estávamos saindo dali. O amigo
e motorista da vez, resmungara: - A rua é pública!
Na verdade, no papel, o Kerlle tem total razão, mas na prática a rua
não é tão pública assim. Principalmente as ruas escuras. Lotes tomados
pela força que tem a violência e pela falta de preparação ( ou
interesse!) quem tem o poder público!
Tipo, você vai estacionar seu carro em uma rua escura e chega um dono
da rua (?), popularmente conhecido como flanelinha, te dizendo:
- Meu patrão, não precisa se preocupar... Estou aqui cuidando do seu
patrimônio. Ninguém mexe, mas tem que pagar adiantado!
Na verdade ele está te dizendo subjetivamente:
- Oh, seu otário impotente, escolhe... Ou tu me pagas pelo que, na
verdade, já pagas como imposto, ou eu vou pintar miséria no teu carro!
E ai, paga pra ver?

-Gleison Nascimento-