sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Que se danem as formiguinhas

Cheguei do futebol, madrugada adentro e dei uma olhada despretensiosa no facebook. Cliquei no primeiro link que realmente me chamou a atenção. Era uma matéria curiosa, de um site qualquer, que trazia um vídeo inusitado de uma experiência inusitada: jogaram alumínio líquido dentro de um formigueiro. O resultado foi uma peça bela e interessante, que sugeria uma obra de arte, criada pela tão conhecida engenhosidade das formigas. Desci um pouco mais naquela página e comecei a ler os comentários que ali existiam ao mesmo tempo que organizava minhas próprias observações acerca da tal experiência. O que se seguiu após essa outra despretensiosa consulta foi uma embate interno entre as várias opiniões postadas ali e as minhas, postadas aqui, nessa mente fértil de cronista. Enquanto lia e refletia sobre o que lia, parecia curtir e "descurtir", aplaudir e vaiar, internamente, cada comentário exibido ali, como se minha opinião sobre o assunto estivesse sendo moldada, tal qual o alumínio nos vãos e "desvãos" do formigueiro. Inicialmente, pensei, com ironia: "Quem foi o indivíduo que teve a brilhante ideia de jogar alumínio líquido dentro de um formigueiro?" Segundos depois pensei nas formigas. Confesso que senti pena. Coitadas! Morreram à serviço do que muitos, provavelmente, chamaram arte. À serviço não! Foram mortas de forma cruel e arbitrária. Li comentários exaltados e recheados de insultos que condenavam veementemente os que haviam se interessado pela experiência, como se estes fossem nazistas a matar inocentes e a fazer com eles experimentos científicos que seriam justificados pelo bem que trariam a humanidade. Senti vergonha de ter demorado tantos segundos até pensar nas formiguinhas. Mas achei um exagero tamanha revolta. Havia comentários filosóficos que falavam das formigas como seres vivos e merecedores de respeito e dos humanos como seres vivos e cheios de  desrespeito e de futilidades. Havia piadas e palavrões. Não me contive e ri do exagero destes e do humor negro daquelas. Mas o comentário que mais me chamou a atenção dizia exatamente assim: " Ter dó da formiga que está no quintal dos outros é fácil!". Pensei no meu quintal. E nas formigas dele. Pensei o quanto seria interessante acabar com um formigueiro indesejável que houvesse nele e, além disso, levar para casa uma peça, no mínimo, interessante, para adornar a sala. Pensei nas formigas que fazem fila indiana pelo quarto, pela cozinha, pelo banheiro e que se metem dentro dos potes de açúcar e vão parar no suco do almoço. Por alguns instantes as quis mortas. Concordei com o comentário citado acima e também com alguns outros que comportavam tal ideia ou pensamento... É moda ter ideologia no Brasil dos protestos. Ter o que dizer ou opinar sobre tudo, com clareza, firmeza e destemor. A dúvida, a incerteza ou a ignorância, ainda que efêmeras, são condenáveis. Mas nem tudo é o que parece ser e nem todos tem o que parecem ter. Pois por que, então, o poeta cantaria: "Ideologia, eu quero uma pra viver!" ? Vá em frente, caro leitor, e chame a isso do que quiser: falsa moral, hipocrisia ou qualquer outra coisa do tipo... eu chamo de pseudo-ideologia. É tudo falso, camuflado, egocêntrico, político. É ser corrupto e corruptível, mesquinho e patético. Aqui, no país sede da pseudo-ideologia, é muito "alumínio" pra pouca "formiga". E não surge, disso, obra de arte alguma... Saí daquela página com medo de ser pseudo-ideológico e contraditório, mas ao mesmo tempo feliz por não "ter aquela velha opinião formada sobre tudo". Discordei de ambos os grupos, individualmente. Dos que aprovaram e dos que desaprovaram a experiência. Mas concordei com ambos. Descobri que a ideologia é coisa muito complexa para a minha humilde crônica filosófica ou minha efêmera experiência epifânica. Ela não é coisa banal, que se compra numa esquina, se proclama em outra e se vende numa terceira. Vai mais além... Ela ultrapassa a medida das formigas e as fronteiras do formigueiro...



-Danillo Melo-
  13/12/2013