sábado, 29 de dezembro de 2012

SAC (Serviço de Atendimento do Céu)

Sábado, 22 de Dezembro de 2012 - 12:00hs

Telefone chamando...

Atendente virtual: "Bom dia! Seja bem-vindo ao céu. Estamos ao céu dispor. Não deixe de conferir as nossas promoções de fim de ano para nascimento e morte no seu país... Para promoções relativas a nascimento ou morte, tecle 1. Problemas com o casamento ou os filhos, tecle 2. Doenças a serem curadas, tecle 3. Para informar pagamento de promessa, tecle 4. Se você quiser informar perda ou roubo de bençãos garantidas, favor, tecle 5. Negociação de dívidas de promessas não pagas, tecle 6. Para solicitar maldições sobre um lugar ou pessoa, tecle 7. Para perguntas sem respostas, tecle o número 8. Para retornar ao menu principal tecle 0. E tecle 9 para falar com um dos nossos atendentes..."... "Nove. A opção escolhida foi para falar com um dos nossos atendentes. Por favor, aguarde. Estamos direcionando a sua ligação para um dos nossos atendentes e informamos que esta ligação está sendo gravada.

Música de fundo: 
"Meu amor, me diz o que você faria se só se restasse esse dia? Se o mundo fosse acabar, me diz, o que você faria?..."

10 minutos depois...

- Isquemael, bom dia! Com quem eu falo?
- Com João.
- Senhor João, em que posso ajudá-lo?
- Minha filha...meu filho...é...
-Anjo não tem sexo, senhor.
-Apois, seu anjo...dernede sexta-feria que o mundo tá pra se acabar num se acabou ainda.
- Hum...entendo, senhor.
- Ói...eu quero que vocês tome uma providência...
-Sim, senhor...será que eu poderia confirmar alguns dados?
- Pois pergunte...
-Qual sua galáxia, senhor?
- Ga o quê...??...eu num sei que danado é isso não, viu...e num gostei desse nome!
- Senhor, sem essa informação eu não poderei prosseguir com o atendimento..
-Eita...esse negócio tá na identidade é?
-Não, senhor.
-Eu num sei ler não, minha filha...meu filho...mas se for um número eu digo!
-Não, senhor, não é um número.
-Intão é o que é que é?
-É a sua localização no universo.
-Rapaz...eu num sei onde esse negóço se localiza não...e olhe que eu tenho 104 ano e já andei em tudo quanto é lugar nesse mundo e nunca vi esse negóço cum esse nome aí....
- Senhor...eu vou ajudar você rastreando a sua galáxia em nosso sistema...Qual o nome do seu planeta?
- Meu pai!! Você parece que mora em outro planeta né?! A gente num mora na terra, criatura?! Nem eu que num sei lê, sei isso!
-Hum...Planeta terra. Achamos. Sua galáxia é a Via Láctea.
-Pronto. Achou. Esses negócio de computador resolver tudo hoje em dia, né?!
-Senhor, a terra não é do nosso setor. Vou transferir sua ligação para o setor responsável. ok?!
-Passe meu anjo...passe. Já devia ter passado em vez de ficar perdendo tempo perguntado besteira!
-Só um minutinho enquanto eu transfiro a ligação...

Música de fundo:
"Acabei com tudo. Escapei com vida..."

-Abimael, boa tarde! Em que posso ajudá-lo?!
-Boa tarde...o seu nome é igualzinho ao do outro, é?!
-Não, senhor. Eu sou o único desse prédio. Em que posso ajudá-lo?
- Então, seu anjo..o mundo tava pra se acabar ontem e já é meio-dia e nada, rapaz!!
-Sim. Entendo, senhor. Posso confirmar alguns dados?
-Vixi Maria!! De novo!! Mas num me venha com aquele nome esquisito de novo não, por favor!
-Ok, senhor.Planeta terra. O senhor poderia me dizer a idade?
-104 anos...seco que nem o chão do sertão, mas novo que nem uma flor de mandacaru...
-Não, senhor. Pergunto a idade do planeta.
-Mai é cada uma!!A idade do planeta?! Cês tão pensano que eu sou Matusalém, é? Cento e quatro é cento e quatro num é novecentos, nao! Nunca vi o mundo nascer nem fazer aniversário pra saber quantos anos ele tem!Oxee....
-Certo, senhor. Vamos tentar outros dados para conseguir fechar o preenchimento da ficha no sistema.
-Vá...diga!
-Esse planeta já foi destruído?
-Claro! Foi uma enchente forte da gota. A senhora ou o senhor...sei lá....num viu isso na Bíblia não , foi? Tá escrito lá a história de Noé e da cheia.
-Sim, senhor. Já ouvi, sim. O senhor Noé é chefe do setor de maldições e castigos, que fica aqui do lado.
-Apois aproveite e diga a ela que num teve precisão de botar pernilongo, barata, cupim, carrapato, timbu. mutuca, maruim e esses bicho tudo assim no barco,não!
-Senhor, desculpe interromper, mas o senhor quer a resolução dos problemas?
-Resolva, resolva. Mas dernede que eu liguei que vocês só pergunta, pergunta, pergunta...
-A escravidão já passou por aí?
-Passou.Ainda bem que foi embora e eu espero que num volte nunca mais, porque eu sou nêgo e véio e com cento e quatro anos eu num aguento ficar levando chibatada, nao!
-Muitos genocídios?
-Rapaz, eu num sei quem é esse não...é de Cabrobó, é? Lá é que tem uns nome esquisito assim...Já sei, isso num é nome de gente! Então é doença...só pode ser!
-Não senhor. Nenhum dos dois. Deixe-me ver...Tem acontecido muitas guerras no seu mundo?
-Oxeee...o que mais tem aqui é guerra! Quebraram a TV de vocês aí, foi? Nunca ouvisse falar nos "Isteites", não? O famoso "Estadu Zunido"? É guerra pra tudo quanto é lado. É perto de um tal de Iraque, onde só tem morte também...No mundo se mata gente que nem mosquito.
-Certo. Senhor, qual é o seu país?
-Brasil, seu anjo.
-Ok. Brasil. Já acrescentei todos os dados no sistema e vou abrir uma ordem de serviço e dentro de alguns minutos eu transfiro sua ligação para o senhor agendar uma visita técnica ao Brasil, está bem?!
-Rapaz...que demora da bexiga é essa, homi?! Assim num dá, não! Depois de ficar conversando miolo de pote o dia todinho vocês ainda quer me passar pra outro anjo com o mermo nome pra começar tudo de novo??
-Senhor, esse é o procedimento padrão.
-Num tem esse negócio de padrão, não! Jogue logo um monte de bomba anatômica e exploda esse negócio, vá! Eu vou ter que botar vocês na justiça, é? Vou procurar um adevogado e processar vocês por calúnia, defamação e danos imorais, porque a pessoa já tá veía e fica passando por essas coisas...
-Calma, senhor. Vou resolver uma etapa pro senhor, viu?! Vou abrir daqui mesmo, do meu terminal, um chamado para uma visita técnica e dentro de 24 horas dois anjos técnicos estarão visitando o seu país para descobrir qual é o problema. Informamos que, caso o problema não seja nosso, será cobrada uma taxa de visita improdutiva.
- Certo...mas acabe com o mundo tudo, porque se acabar só com o Brasil é mermo que queijo, porque o povo desse mundo aqui se multiplica que nem preá!
-Senhor, a destruição dos outros países depende das exigências dos nossos clientes desses respectivos países.
-Tá certo.
-Depois de passadas as 24 horas o senhor pode nos retornar a ligação. Lembramos que os anjos técnicos são invisíveis e a presença deles não será notada durante a visita.
-Poxa...e eu doido pra saber se eles tem cara de homem ou de mulher...
-O CÉU agradece a sua ligação...Tenha uma boa tarde!

Dia 24 de Dezembro de 2012 - 08:00hs

Ligação...Atendente virtual...menu de opções...espera...música de fundo..atendente 1...averiguação de dados...atendente 2...

-Cacanael, bom dia!
-Meu amigo, diga logo se o mundo vai se acabar ou não, porque já faz é tempo que eu tô esperando aqui e nada. Tô quase morrendo primeiro.
- Um momento, senhor. Vou ler, processar e conferir todos os dados passados pelo atendente anterior...Só mais um minuto...Mais um minutinho, por favor...Só mais alguns minutos para atualização do sistema... Aguarde mais alguns segundos , por favor...

(Telefone Mudo)

Música de fundo:
"E agora ouvi você dizer: acabou ô ô ô ô, acabou...acabou ô ô ô ô, acabouôoo..."

-Senhor?!
-Diga!
-O seu mundo realmente  preenche todos os requisitos para ser exterminado e constatamos na visita técnica que ele já se acabou.
-Acabou como, criatura, se eu tô vivinho da Silva aqui?!
-Senhor, todo o resto do mundo já acabou menos o país Brasil...o Senhor não viu na televisão, não?
- A TV daqui também tá quebrada, seu anjo!...Agora danooussee!... E a gente aqui vai ficar no prejuízo, é?!
-Desculpe, senhor, mas foi verificado um problema de cobertura do sinal e constatamos que a sua área não oferece ainda condições necessárias para o recebimento desse serviço...Tenha um bom dia!

A cobrança da taxa de visita improdutiva chegou pelos Correios...

-Danillo Melo-
 29/12/2012









quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Eu sou um relógio


Eu sou um relógio. Vivo me debruçando sobre o meu próprio tempo. O tempo não conta ou mede a si mesmo. Ele sequer existe. O tempo somos nós. Somos ampulhetas ambulantes. Relógios andantes. Sujeitos a todo tipo de mau e bom desempenhos, como as máquinas. As vezes falta-nos pilha. As vezes gostaríamos de ser mais tempo. As vezes gostaríamos de adiantar nossos ponteiros e pular para a próxima etapa. Mas somos escravos do nosso próprio tempo. Somos auto-escravos. É ele que delineia a medida da nossa existência. É nele que encontramos e desencontramos os amores. Que prolongamos ou encurtamos a vida. Somos tempo de acordar, de "tomar o café da manhã", de fazer exercícios. Somos tempo de estudar e de trabalhar e de fazer nada. Somos tempo de amar e sermos amados, de não amar e sermos desprezados. Somos o cúmulo da contradição do tempo. Somos tempos que se atrasam. Somos tempos que não tem tempo. Reclamamos do relógio que trazemos no pulso, nos aparelhos eletrônicos ou que penduramos na parede. Mas esses são todos extensões de nós. São a representação do que somos. Somos nós os relógios que estão sempre atrasados. Nós, que somos o tempo, mas que não temos o tempo, somos senhores e escravos ao mesmo tempo. Por isso somos tão contraditórios, porque é próprio do tempo conter, em si mesmo, infinitos fatos, experiências e pessoas. O tempo não tem limites, não tem medida. As horas, os minutos e os segundos são linhas com as quais demarcamos, separamos e catalogamos a nós mesmos, a fim de nos controlarmos. Mas somos, muitas vezes, e durante muito tempo, tempos perdidos. Somos tempos sem tempo pra nada. Somos tempos que voam. Somos tempos ruins e tempos bons. Somos tempos fechados e abertos. Tempo que falta e tempo que sobra.Tempo que escreve e tempo que não apaga. Tempos livres. Tempos antigos e tempos modernos. Somos tempo parado. Tempos que mudam e que não voltam. Tempos que jamais serão os mesmos. Nós somos tempo que passa, que não morre, mas que acaba. E quando acaba, se torna como um relógio que deixou de marcar as horas.... Faz muito, muito tempo que somos tempo! E o que fizemos de nós mesmos?...

-Danillo Melo-
 20/12/2012

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A palestra não produz nada prático

Parecia um velório. E velório é um gênero chato, triste e sombrio. É algo do qual você não quer participar, mas deve. A mesa, no centro da pequena elevação que poderíamos chamar de palco, era o caixão. O morto era o assunto. Ou estava morto ou estava sendo tratado como tal, pois não há velório sem defunto. O doutor, respeitado pelos outros acadêmicos com quem dividia o ofício era quem pronunciava o discurso, ou seja, aquele que falava sobre o morto. O mediador da mesa, aquele que conduzia o "debate", parecia o coveiro e cansado de ver tanto morto, tantas vezes, sentou ao lado do caixão e ouvia. Nós, os alunos, éramos os amigos do morto, tristes e incomodados, com razão, por ficar olhando o defunto, mas cônscios de nosso dever. A palestra começou. O professor que discorria sobre o tema iniciou dizendo: " eu irei refletir brevemente sobre..." e "para evitar coloquialismos, eu escrevi o que gostaria de dizer..."... Instintivamente e discretamente, todos olhavam para as suas mãos. Ele segurava seis ou sete folhas. O professor começou a leitura. Todos estavam sérios e compenetrados. Parecíamos realmente interessados, mas sabe-se que os defuntos são todos iguais, pois os homens, quando morrem, alcançam igualdade. No começo, o assunto tratado parecia distante do tema do debate, mas com dedicado esforço notava-se a ligação entre eles. Mas o problema eram as folhas. Cada vez que o orador terminava uma folha, ele empurrava a mesma um pouco mais para a frente e levantava a próxima, continuando a leitura, quase sem respirar. Por volta da terceira folha, a atenção inicial, se realmente existiu, em algum momento, foi se desfazendo, lentamente. Alguns viam algo mais interessante no celular, outros cochichavam coisas engraçadas e tinha aqueles que não faziam nada...pareciam estátuas, como se estivessem sem vida também. Eu, naquele momento, escrevia o título da crônica e sorria. O mediador colocava o polegar embaixo do queixo e o indicador na face, segurando a cabeça cujo rosto trazia uma expressão sofrida. O orador não respirava. Os goles de água eram tão rápidos que quase eram imperceptíveis. Discursava com eloquência e até certa empolgação. Parecia entender muito bem o que dizia, diferente da maioria de nós, creio eu. Na penúltima folha, uma torcida silenciosa gritava. Gritava com os olhos, com uma paciência engraçada, totalmente disfarçada. O professor dizia: " eu quero dizer com isso que...". Ah...uma explicação! Era o prelúdio do fim. As palavras consoladoras foram: " termino dizendo que...". Aí todos se ajeitaram e começaram a olhar os relógios...até que ele propôs três perguntas para iniciar o debate e finalizou. Estava consumado. Palmas, palmas!!!O professor estava suado e nós, felizes. O mediador da mesa agradeceu ao professor pelas palavras e iniciou o debate dizendo que nós poderíamos fazer perguntas. Não havia mais tempo. Tínhamos outras aulas para assistir. Dezenas de pessoas começaram a levantar. O professor que mediava a mesa pegou o microfone e falou que não precisávamos correr com medo de fazer perguntas. Alguns lhe disseram, de longe, que tínhamos outros deveres e ele fez que sim com a cabeça. Foi aí que a coisa ficou pior. Olhei ao redor e parecia que todos estavam de pé, dirigindo-se à saída do auditório. Fui um deles. Levantei-me, envergonhado e sorridente. Acho que nunca vi nada tão triste e tão engraçado ao mesmo tempo. Nem sabia qual das duas emoções deveria ganhar mais da minha atenção. Subi os degraus e me encaminhei para a saída. Olhei para trás diversas vezes e vi a cara triste dos dois professores ao redor da mesa. Queria ficar e ver o que aconteceria, mas faltava-me coragem e cara de pau. Todos devem ter ido embora, deixando ali, tristes, ao lado do caixão, a namorar o defunto, o discursante e o coveiro. Ninguém quis ver o enterro. Era triste demais. Fiquei triste por eles. Mas fiquei feliz quando lembrei do professor de teoria da literatura. Alguns dias atrás, ele havia nos dito que a arte não produzia nada prático. Aquilo mexeu comigo. Fiquei intrigado. Não quis concordar. Pensei em todos os argumentos que ele havia usado, tentando descobrir por que ele estaria certo ou errado. Aí veio a palestra. E em defesa da arte e do meu ego machucado, percebi que é a palestra que não produz nada prático. Foi como dar um soco nele, só por ter insultado a arte daquele jeito. A palestra fez eu sentir-me vingado. Para quem acha um exagero dizer que a palestra não produz nada prático, eu pergunto, então, o que será dizer que a arte não produz nada prático? A palestra até produz algo prático...Saí de lá sem entender nada, mas com uma crônica praticamente pronta...

-Danillo Melo-
 07/12/2012

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Não se fazem mais casamentos como antigamente!



A minha avó, a velha Maria do Carmo Mendes, degustou, ontem à noite, a nostalgia de seus tempos de alvores, ao saber do fim do casamento de uma prima distante, nossa. Falou-me como quem lamenta:

- Casamentos descartáveis, estes de hoje. Casa-se em nome do amor e sapara-se como se o amor fosse um defunto indigente! No meu tempo de juventude, não... (Deixou de me fitar e pareceu se perder em lembranças) O amor vinha com o decorrer dos anos. As moças casavam com quem deviam se casar e pronto. Estava resolvido. Papai mesmo, quando me apresentou Sivuca, (Meu avô) confesso que me deu vontade de dizer que não aceitaria me casar. (Gargalhou timidamente como quem revive algo bom) Sujeitinho mal-acabado, fedendo a aguardente e com cara de malandro, mas como papai estava bastante animado com o futuro noivado não contrariei. Noivei e posteriormente casei, mas nos primeiros meses eu não agüentava olhar na cara daquele sujeito. Os meses passaram e, para minha surpresa, o Sivuca mostrou suas virtudes. Eu passei a respeitá-lo. Com os anos passando fui aprendendo a amá-lo. Desta forma lhe fui fiel até os últimos dias de sua vida. Os primeiros meses de casamento foram uma tortura, é bem verdade, mas o tempo me ensinou a admirá-lo. Hoje as mocinhas só casam se, por ventura, julgarem que já amam os companheiros. Tolice! Não se fazem mais casamentos como antigamente.

E eu lhe disse, aliviado:
- Graças ao bom Deus!

-Gleison Nascimento-
30/11/2012

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Suvaco.



Axilas? Conheço sovaco... Aliás, sovaco não, SUVACO. Não consigo entender o porquê de tanta discriminação linguística com o coitado. Quanta babaquice. Debaixo de um sol de meio dia, não importa o nome, vai ser desagradável ficar perto do dito cujo. Então... Para que tanta pompa?
Perdoem-me os mestres dos bons modos da língua portuguesa, mas eu acho mais agradável estar perto de um suvaco ameno a estar próximo a uma axila revoltada. Além do mais o suvaco está presente no cotidiano de todos nós. Tem como negar?
Quando sua(o) namorada(o), caro leitor, se debruça por sobre seu peito para receber afagos, não se engane, ela(o) vai estar com o nariz no seu suvaco. Então se, por acaso, surgir um comentário do tipo:
- Meu bem, no nosso aniversário de namoro, estou pensando em te dar aquele perfume que eu tanto gosto de sentir na tua pele...
Perigo! Afaste sua(o) amante do peito e encontre um jeito mais agradável de dar carinho, e da próxima vez tome um banho, seu nojento. E, se apesar desse desagrado, esta pessoa não te dispensar... CASE. É amor!
O que eu tenho certeza que o leitor não sabe, é que o homem foi criado graças ao suvaco. Veja só, na criação do mundo Deus deu vida aos animais, fez os mares e a terra, a luz e o breu... Mas de tudo que criou o que mais chamava a atenção do pai eterno eram frutas que brotavam das árvores.
Ele achou aquilo tudo uma obra-prima. As frutas eram a mãe da natureza. Eram elas que geravam as sementes de onde surgiriam novas árvores e a vida perduraria... Então Deus começou a fazer tudo girar em torno das frutas.
Os mares sangraram águas doces para que as árvores se nutrissem e gerassem, assim, boas frutas. As aves comiam as frutas enquanto voavam e, assim, espalhavam suas sementes. Todas as frutas ganharam uma utilidade prática no paraíso e, por ultimo, sobraram duas árvores sem nenhuma função direta. A macieira e o limoeiro não tinham, aos olhos do criador, uma função eminente. Deus pensou alguns minutos e, sentindo a beleza e a doçura do fruto vermelho, disse:
- Tu, árvore sublime, gerarás o fruto que representa meu poder em terra e nenhum animal te poderá tocar... Quanto a você, limoeiro, voltarei amanhã e dar-te-ei uma função.
Então, na mansão celeste, se sentou em sua poltrona, na sala de controle, e se pôs a imaginar como daria utilidade àquela fruta que não parecia servir para nada. Depois de muito imaginar, criou a ‘catinga’. A nova criação era formada por gases que traziam um mau odor. Este que seria inibido pelas substâncias ácidas contidas no limão, mas ainda faltava uma coisa... Quem exalaria a ‘catinga’?
Deus percebeu que teria que produzir uma nova criatura para habitar a terra... Aí surgiram os Suvacos, (dois suvacos, para ser mais exato) Deus os chamou de ‘Suvaco de Adão’ e jogou-os no mundo. Então passou o resto do dia espreitando o impacto causado pelas novas criaturinhas que habitavam o paraíso... Elas até tinham funcionado muito bem, mas Deus, perfeccionista em tudo o que faz, não ficou satisfeito com o resultado estético daqueles dois suvacos, trepados no limoeiro. Então decidiu que teria que criar algo para dar um sentido estético aos ‘suvacos de Adão’... Então fez o homem.Bem, o resto da história vocês já conhecem!

-Gleison Nascimento-
21/11/2012

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A revolução do “H”



Procurei o “H” no dicionário. Encontrei-o, gigante, em letra de fôrma, maiúsculo, no centro superior da folha. Abaixo dele, no canto esquerdo, um “h” minúsculo sofria definição: “A oitava letra do alfabeto da língua portuguesa”. O menor, parecia tímido, triste e esquecido. O maior, revoltado, fazia as malas para ir embora. O alfabeto, como um bom pai que é, ficou triste. Lhe sobrariam, apenas, 25 filhos para tomar conta. O “H” chamou a família, explicou aos irmãos mais jovens, o K, o W e o Y, o motivo da partida anunciada e mandou pôr outra letra no seu lugar, no dicionário. Todos sentiram que faltaria um “Q” de “H” naquela casa. O “H” sentou-se no “h” minúsculo e começou sua defesa:
“Eu não sirvo pra nada. Quase nunca servi. Quando eu era jovem, precisavam de mim na Pharmacia, por exemplo, e em outras palavras importantes. Hoje, como no hoje, não tenho sequer um som. Sou a representação gráfica de algo que não existe, que foi deixado ali, talvez, por pena. Me sinto como a Rainha da Inglaterra, pousando na varanda, fingindo que lidera tudo, mas sem mandar em nada. Chamem o “R”, por favor e  deixem que ele cuide dos “hamsters”, dos “hackers” e de quaisquer outras palavras, estrangeiras ou não, que necessitem desse som. Ele fará este trabalho melhor do que eu. Partirei, o mais rápido possível, para uma terra estrangeira, onde eu possa contribuir, substancialmente, para o léxico...”
Foi extremamente triste! O “H” havia perdido a honra. Na verdade, a honra havia perdido o “H”. E foi ela a primeira a se pronunciar. Saiu de onde estava, voltando algumas páginas, e foi bater no começo da lista das palavras que começavam com “H”. Falou que sem ele estava desonrada e cobrou consideração... O homem, com “H” maiúsculo, disse que sem o “H”, poriam em xeque sua masculinidade e virilidade...O hidrogênio não existiria mais. Ficou arrasado... A hora reclamou que viraria outra palavra e também deixaria de existir, e que, por isso, o tempo não passaria... O verbo haver perdeu o passado e ficou triste...Uma a uma, as várias palavras envolvidas foram se apresentando e defendendo a permanência do “H” no dicionário brasileiro. Todas as palavras se amontoaram , tentando chegar até aquela página, para pedir ao “H” que ficasse. Milhões de hzinhos imploraram que ele não fosse embora. O dicionário ficou enxuto aquele dia...
O “H” ficou mudo. Percebeu que, sem ele, não haveria mais ganhos. As pessoas perderiam seus olhares, os dias ficariam sem manhãs, os pais perderiam seus filhos e o mundo perderia seus sonhos. Recobrou a voz e a honra e terminou a revolução. Retomou a frente das palavras que tanto reclamavam sua volta e retornou para o centro superior da página, altivo, cheio de pompa e imponência, assim como os “H’s” são...



-Danillo Melo-
14/11/2012

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Eu sou um gato.



Descobri que, se existem vidas antepassadas, em alguma de minhas reencarnações eu fui um gato. Sim, um gato. O primeiro indício que me leva à esta conclusão são as características físicas. Estou acostumado a, desde sempre, escutar:
- Nossa. Como aquele cara é um gato!
E, apesar de sempre ouvir coisas deste tipo, nunca atinei verdadeiramente para este fato. Até esta quarta-feira, dia 14 de Novembro, quando parei para observar um felino que passeava no meio das pessoas num evento de poesia que estava rolando em Olinda. Achei curioso ver um gato passear tranquilamente no ‘Sarau do Cão’. Depois descobri que o Geremias, como é chamado o bichano, é criação dos donos do espaço onde o evento acontecia.
Decidi analisar o comportamento do animal que não me trazia nem um pouco de empatia, até então. Sentei-me na escada de acesso que dá vista para o ambiente principal, onde o Geremias fazia seu tour. Seus passos lentos e compassados, quase balé, me faziam querer caminhar também. Cintive-me e foquei em minha observação.
Percebi que quando algumas pessoas (algumas mulheres, para ser exato) notavam a presença ilustre do bichano, lhe faziam carinho na cabeça. Era uma festa. Ele encostava a cabeça na perna da moça e começava a fechar os olhos, como um Marajá. Ficava mole. Quando a moça desviava a atenção dos carinhos, ele fazia pirraça. puxava a barra da saia, com os dentes. Quando não arranhava, de leve, a panturrilha de sua amada para lhe chamar a atenção. Queria carinho. Juro, senti-me irmão daquele gato.
Por vezes, quando parecia estar cansado daquele monte de gente, se afastava. Parecia arredio. Tornava-se um elegante observador. Após alguns minutos, voltava em sua busca incansável por afagos intermináveis. Eu não cabia mais em mim!
Levantei-me, e desci as escadas correndo. Precisava dividir aquilo com alguém. Afinal, de que vale ser um gato e não poder se exibir por isto. O primeiro amigo íntimo que encontrei foi o Fernando  Bessony.
- Nando, eu sou um gato, cara!
 O Fernando riu da minha cara, talvez me achando Narcisista demais para ser persuadido com verdades relativas. Desisti de contá-lo. Prossegui em minha procura por afago e encontrei a Thalita Pereira que parecia estar mais entretida em minha agonia latente que em qualquer outra coisa. Achei que seria a ouvinte perfeita.
- Neguinha, eu sou um gato.
- Eu sei, eu sei disso, meu bem. Tentou-me consolar.
- Não, não é bem isso que estás pensando... Contei-lhe minhas observações. Não é o máximo?
- Nego. Gato tem bafo de peixe e enterra merda, cara.
Desisti  de minhas auto-psicanálises. Desisti de ser gato. Agora eu quero ser cachorro. Os cachorros são incríveis. É. está decidido. Eu sou um cachorro!

-Gleison Nascimento-
15/11/2012

sábado, 10 de novembro de 2012

Escritor adestrado



Eu descobri que a melhor maneira de adestrar um escritor é fazê-lo dar intimidade ao seu leitor mais assíduo. Aquele mais chato. Um leitor que ligue na madrugada para lhe cobrar sua crônica semanal. Aí um escritor toma jeito. Agora quer ver fazê-lo nunca falhar? Faça desse leitor, sua namorada.
Você não imagina o quanto é doída a possibilidade de decepcionar um leitor, ainda mais se sua namorada for esta leitora. Meu organismo, por exemplo, rejeita a estranha mania de acordar cedo, – 10 da manhã ainda é madrugada, sim- mas estou cá, num sábado às 06:47h da manhã escrevendo uma crônica para as pessoas que passam a semana esperando esta crônica. Ai, eu amo vocês!
A razão de minhas crônicas irem ao blog é você, querido leitor. É por você que gosta de viajar nas besteiras que digo que não deixo de dizer besteiras. Dentre tantas coisas que tenho para agradecer à Deus, uma das mais importantes é por ter leitores. Isto me alimenta e alimenta o blog, por conseqüência.
Devo falar que a culpa desta ‘crônica da semana’, em específico, estar sendo publicada é de uma leitora muito especial. A Thalita Pereira me encheu o saco esta semana. Você acredita que eu estava esperando uma entrevista de trabalho, na segunda-feira, e desisti por causa dela?
Faltavam duas pessoas para chegar a minha vez de ser entrevistado, quando recebi um SMS:
‘ Neguinho, não entra nesse emprego, não. Vai te sugar a vida. Não terás tempo para nós, teus leitores. Fica conosco, meu bem?’
Você tem noção do que é, para um escritor, ler isso? Sai correndo daquele matadouro de artistas. A Thalita me salvou a vida. Venho aqui, agradecer a esta linda cozinheira por me lembrar de quem eu sou. Sim, sou um escritor e devo fidelidade aos meus leitores.
Se não fosse a persistência da Thalita talvez, na segunda-feira que vem, eu estivesse empacotado, despachando papéis que nunca terão uma utilidade verdadeira. Sinto-me feliz por não ser um proletário. Afinal, acordar cedo para bater ponto é coisa de otário né, neguinha?

-Gleison Nascimento-
10/11/2012