quinta-feira, 28 de junho de 2012

Na sala de aula

Tudo mundo quer entrar de férias...claro!...Um monte de gente gostaria de não ter que estudar. Acordar cedo pra ir pro colégio (principalmente se for no inverno) é um martírio. Sair do trabalho e ir direto pra faculdade, é outro. Tem professor chato, assunto chato, trabalho difícil e prova trabalhosa. Mas a verdade, a verdade mesmo, é que ninguém vive sem a escola! Basta as férias durarem um pouquinho mais e agente sente algo que nunca achava que iria sentir: saudade. Num é saudade das coisas chatas que eu citei acima não. É da sala de aula. Seja ela do cursinho, do colégio, da escola técnica ou da faculdade. Tem um monte de coisas boas lá que quebram a monotonia de nossas vidas e nos transportam para um mundo cheio de personagens intrigantes e engraçados. A sala de aula é o ambiente oficial no qual nos debruçamos sobre a nossa própria loucura. Tem todo tipo de doido mesmo! Nós nos sentimos um pouco mais vivos lá. Formamos uma família. Buscamos sonhos...
A minha turma é assim: uma família que tem apenas 4 meses de existência. Eu saio de casa dizendo que vou pro colégio. Aí todo mundo ri porque eu sempre troco faculdade por colégio, nem sei por quê. As portas de vidro do Centro de Artes e Comunicação são as portas do guarda roupa de Nárnia. É um outro mundo...
 A professora Clara é a nossa musa! Ela nos atura e responde todas as nossas dúvidas. Em sua primeira aula, ela conseguiu, imagino eu, o que ela pretendia: despertar o desejo. Naquele dia eu descobri que era bom demais tudo aquilo. Ela perguntava: "Tá claro ou tá escuro, minha gente?"...Tá Clara!!!...
O Júlio, não consegue dizer Chomsky. Ele fala Chosmky. E toda vez que agente ouve ele dizendo errado, agente faz aquela festa... Dayana é muito participativa, mas fala tão rápido que quando ela começa a turma toda pede pra ela falar um pouco mais devagar.. Ah....e por falar em devagar,  a Patrícia é o Schumacher. Quando a professora libera, ela sai correndo pra parada e não espera por ninguém. É  que ela mora em Peixinhos... Júlio mora no Cabo, Samira é de Bézêrros, Mércia, que já é professora, é de são Lourenço, mas conhece bem Peixinhos e Jansuely é de Camaragibe... Fred, mais conhecido como humildade, mora no Vasco da Gama e Claudia é de Vitória! O pessoal da minha sala gosta de morar longe. Mas a Amanda mora no muro encostado ao da universidade... A Aline, a que trabalha na Gol, é muito bonita, mas ela viaja muito... Também tem o Thiago e o "Thiago também". O primeiro é muito alto e o segundo parece o Doug Funny... E como a turma é, em sua maioria, muito careta, tem a Tuany para apimentar as conversas. Mas quem quebra todos os tabus, mesmo, é o Silas. Ele é a versão masculina da Dercy Gonçalves na nossa turma. E pra não dizer que ele é só isso ou que ele só fala daquilo, ele é conhecido também como SausSilas, o pai da linguística moderna... O Marcello também é professor, mas ele tem um problema no aprendizado em sala. O nome do problema é calor. Se o ar condicionado quebra, ele não consegue se concentrar na aula, fica suando o tempo todo. E se alguém quiser se tornar professor, como ele, é só falar com a Gilmara...  O Robson disponibiliza o Tablet se alguém quiser ver alguma coisa, interessante ou não, na internet. O Igor disponibiliza as provas antigas, das cadeiras que ele já pagou, pra agente saber como responder às provas atuais... E por falar em responder, o que eu mais faço na sala de aula é fazer perguntas e algumas são bem difíceis. Mas tem sempre alguém que tem a resposta pra elas. E quando o assunto trata de questões complexas, nós temos Bené, o filósofo e a sua teoria sobre a existência do não-texto... Numa sala da aula sempre tem pessoas que nos inspiram. Na minha sala, todo mundo, quando crescer, vai querer ser igual à Jéssica. Ela sabe muito. Ela é a monitora da professora Siane. Na verdade ela deve ser a professora, disfarçada de monitora. Além de ser a personificação da tranquilidade...O monitor da professora Maria Clara é o Kaonny. Ele é responsável pela diplomacia. Fez o email conjunto do povo de espanhol com o povo de português, a comunidade do facebook e é especialista em novelas, bregas e indicações de leitura...A professora Rosângela é tão braba que nem parece paulistana, parece pernambucana. Pra nós ela se chama Ró...A professora Siane é exigente e sincera. Quando o negócio não tá bom, ela fala. "Precisa melhorar, viu!" E o sotaque que ela carrega é muito peculiar... A professora Stella é muito chique. Seu estilo é o máximo. Aprender fonética com ela "é lindo"!Caio, o monitor dela, é um aprendiz talentoso. Seu conhecimento em fonética é tão grande quanto a sua "garrafinha" (de 2 litros) de água...E ainda falando das professoras...há uma a quem muito estimamos, como se fosse alguém da família: a Vó! A professora Lúcia Caraúbas é a nossa Vó. Ela é paciente com nossas bagunças, com as perguntas fora do assunto e gosta de bons filmes e bons livros...
Agente ainda nem entrou de férias, mas estamos quase lá. Não dá saudades? ... Eu sei que sim... Por um momento, agente até sente saudade das coisas chatas que eu citei lá em cima. É que elas equilibram a vida dentro desse mundo mágico e vasto chamado sala de aula...

-Danillo Melo-
 28/06/2012

segunda-feira, 25 de junho de 2012

João neto e a catraca.


Sua mãe deu sinal. O ônibus parou. A porta abriu-se. Subiu, soberbo, como quem vai receber um prêmio. Sacou 1,10R$ do bolso, como quem saca um distintivo. Era domingo. Entregou a quantia ao cobrador do ônibus, sem ao menos lhe cumprimentar. Segurou com firmeza, nas duas mãos, a catraca que lhe era muito pesada. Impôs certa força e a empurrou. Passou!
Assim o João Neto, com seus seis anos de idade recém completados, pagou passagem pela primeira vez. Você pode pensar que é besteira pagar passagem... Pode até achar que seria mais vantagem não pagá-la, mas é por que você não sabe (Não lembra, melhor dizendo.) o quanto é incômodo ter que, toda vez, espojar a roupa limpa e a dignidade no chão para poder andar em um coletivo. João sabia. Agora não mais.
Você já imaginou um rapaz de dezesseis anos tendo que se deitar no chão e passar por baixo da catraca? Coitado, não ia comer ninguém. E um homem com seus vinte e tantos anos de idade tendo que fazer o mesmo? Não dá. Isso fica fora de cogitação... A cerveja nos proporciona uma barriguinha desproporcional nessa idade. Depois dos cinquenta é que não dá mesmo. A idade e o pudor não nos privam e nos livram algumas coisas.
Aquilo tinha que mudar um dia. Ele se sentiu feliz que fosse logo. Sentia-se um homem. Merecia respeito aquele garoto. Afinal de contas, já pagava passagem. Agora estava mais perto da vida. Daqui a uns anos... Tomar uma cerveja num bar. Fumar um Derby Azul. Queimar um baseado. Namorar. Transar. Separar. Transar. O primeiro passo já foi dado para a vida e ele nem tinha noção de todo esse significado. Prendia-se apenas à alegria de não ter mais que deitar no chão, se dando ao ridículo. Naquele momento sentia-se pleno por este fato e só. Virar número no senso é necessário para o crescimento do homem.
Acontece que o tempo passa. Daqui a uns anos o João vai enjoar de andar de ônibus. Ter que acordar cedo para ir trabalhar e ainda pegar um ônibus lotado? Vida de cão. Ninguém merece, não é mesmo? Comprar um carro se fará necessário na vida desse garoto, que não mais será um garoto. Enfim, não quero me apegar aos fatos futuros tendo em vista que ainda não são fatos.
 Vendo a feição do João ao passar pela catraca, fui levado aos tempos de minha meninice. Quando eu, também, ainda não pagava passagem. Lembro-me da primeira vez que tive o prazer de girar a catraca. Com que gosto eu o fiz. Tive uma sensação de potência como até hoje não tive igual. Pisei o chão com firmeza e com certo desprezo. Agora só os meus pés é que ele iria tocar. Nunca mais minhas camisas brancas teriam marcas da sujeira do frio alumínio. Nunca mais costas ao chão.
Admirei aquele momento com certa nostalgia, confesso. Queria dar um abraço no garoto e dizer que entendia o quanto aquilo era importante. Contive a vontade. Só lhe perguntei seu nome para, hoje, poder citar com precisão nessas linhas. Guardei o livro, que estava, antes, lendo e que a essa hora já estava desprezado, pedi parada. Desci do ônibus. Subi no próximo, só para ter o prazer de sentir com mais atenção a sensação de passar numa catraca. Faça o mesmo, leitor. Você vai perceber o quanto é interessante a sensação. Sensação, esta, que passa despercebida, todos os dias, por estarmos distraídos com outras coisas. Sinta-se um pouco João Neto. Como eu me senti. Como você um dia já se sentiu.
Eu, naquele momento, fui mais feliz que o próprio garoto. Ele descobriu um gosto novo e, de carona na sua descoberta, eu redescobri um gosto que há tempos não sentia.
Só existe uma coisa melhor que conhecer algo desconhecido. É reconhecer este algo esquecido. Naquele momento eu me vi naquele garoto. Por alguns instantes eu fui ele e ele foi eu. Queria poder agradecer.

-Gleison Nascimento, 26/06/2012-

sábado, 23 de junho de 2012

Bons momentos

Veja bem, quando eu era adolescente minha mãe morava no Janga, (bairro do município de Paulista, litoral norte do estado de Pernambuco). Eu morava com meu pai e passava as férias do meio do ano no Janga. O apartamento da minha mãe ficava aproximadamente dois quilômetros da praia e toda tarde eu caminhava pra me banhar no mar. Eu tinha treze anos, um violão e uma imaginação fecunda. Na praia eu conheci um senhor que tinha por volta de oitenta e três anos, mas em perfeita condição física e mental. Ele era pescador de siri. Me contava que seu avô fora escravo em mil oitocentos e lá vai o trem... Dizia, também, que foi menino de recado de lampião, na passagem do bando em Monteiro e que participou de três revoluções. O nome dele era Lauro, Seu Lauro. Havia uma magia nas suas estórias, uma sutileza nos detalhes de impressionar.Enquanto me contava, bebia uma cana que fazia com raízes de umbuzeiro e fumava um cigarro parecido com maconha, daí vem o segredo da pesca, Lauro dizia que o cheiro atraia os bichos. E isso é verdade! Eu registrei tudo na mente, eu não tinha gravador. Mp3, talvez nem existisse e acho que foi bom não ter registrado com esses aparelhos. Porque quando se grava , o sujeito se empolga mais com possibilidade de reviver o acontecimento futuramente, do que vivê-lo na íntegra. E há um sentimento especial no agora. Quem nunca fez uma palestra, ou mesmo um show, peça de teatro... E ao término do evento, pensou: “Porra, hoje foi lindo... bom demais!” E acontecer de um camarada está na primeira fileira das poltronas com uma máquina digital filmando tudo em HD? No dia seguinte você abre o site de relacionamento e encontra o link do youtube, (com seu vídeo) você assiste e quase morre enquanto observa o vídeo. Aí nota: defeito na gesticulação, na afinação vocal, erro que passou despercebido e por aí vai... Quem vai a espetáculo para registrar o evento (com máquina digital) é como ir pro cinema e ficar assistindo tela-quente pela TV do celular “shingling”. Eu fico pensando, se eu houvesse gravado as estórias de Seu Lauro; depois, talvez, quando fosse assistir eu não acreditasse na sua confabulação titubeante, quiçá eu encontrasse algumas contradições no itinerário da prosa, de repente ele nem tivesse oitenta e poucos anos. Não quis fazer contas pra ver se o enredo batia, não averiguei nada, fiquei com medo que fosse mentira. Seu Lauro existiu e seus contos eram verdadeiros. Não o transformei em megabytes. Eu me recordo de bons melhores momentos, que todo dia eu reinvento, fazendo coautoria com as crônicas da minha memória.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Tudo Muda.


De manhã cedo, na calma e pacata Metrópole Recife eu me vejo numa dúvida, atravessar metade da cidade de carro ou de ônibus? Com pouco dinheiro e com tempo de sobra decidi enfrentar o trânsito e o transporte público da forma como dantes fizera: lendo algum livro. O trajeto seria longo, mas não seria cansativo, ler dentro de coletivos era um hábito tão comum para mim desde os tempos do vestibular, que já era craque em não perder paradas, era só dá uma espiadinha no caminho.
Como fazia tempo que não subia em um ônibus para um trajeto tão longo, eu estava bem feliz, duvido tanta felicidade vindo de mim se tivesse que fazer isto todo dia. Sentei no coletivo e comecei a leitura de um livro que já devorava fazia dois dias. Enquanto ia me embriagando nas palavras e imaginando em que caminho o ônibus estava, eu negava olhar pela janela do ônibus a paisagem que tempos atrás me deslumbrara. Da primeira vez que andei pelo Recife, sozinho, e à noite, fiquei deslumbrado. Tenho ainda guardado na memória a impressão que tive: minha cidade é bonita à noite. Aquilo para mim foi como a descoberta de um acontecimento mágico e no auge dos meus 15 anos, do qual eu também descobria a vida, o amor e a felicidade, descobrir o Recife fez parte de um ciclo de evolução. Toda vez ao largar do colégio fazia questão de pegar o ônibus que iria fazer o retorno no centro só para poder olhar as pessoas que subiam, olhar a cidade viva, saber o itinerário e acompanhar aquela vida que me foi negada até então.
 Poderia optar por já pegar o ônibus do outro lado da rua, ele já voltando de sua longa jornada pelo centro, mas ai não teria encanto, seria apenas um transporte coletivo e não um condutor à outra realidade. Hoje, quem diria, eu recusava observar a cidade já tão defendida e apreciada. Talvez tenha cansado da beleza; assim como nos relacionamentos, chega um momento que a gente cansa e precisa de um tempo para retomar o amor, ou simplesmente chegar a conclusão que tudo aquilo já cansou.
Embriagado na leitura não vejo o tempo passar e esqueço de olhar onde estou, durmo. Durmo dentro de mim. Acordo subitamente de um sonho, por Deus, não era um sonho, era um pesadelo. Me recomponho e vejo que não dormia, era a realidade. Acordar é sempre bom, mesmo que de um pesadelo. Ali estava minha cidade transformada. Tomei um susto quando vi que a imagem que tinha daquela região com sua beleza e encanto já tradicional, era agora tomada por uma nova beleza e encanto: a modernidade. Meu coração saltou do peito e senti uma leve sensação de que tinha pego o ônibus errado e aquele era outro lugar. Mas era o mesmo.
Tantas vezes passei por ali este ano e não tinha dado por esta diferença, como pode? Passei de carro ali umas tantas vezes procurando meu caminho, atento ao trânsito e ouvindo boa música que acho que perdi de admirar ou assustar com a mudança. Talvez, se tivesse visto a mudança gradativa não tivesse assustado com a mudança total.
Desci atordoado e procurando entender o que via, parecia que acordava de um sono profundo do qual eu não podia acordar quando quisesse, mas apenas um susto desse poderia ser capaz de tornar a realidade. Tinha que resolver umas coisas muito longe dali e a parada neste foi uma decisão difícil, embora tomada em poucos segundos.
Olhei atentamente o que estava mudando e tentei resgatar na memória a imagem que tinha do lugar, realmente nada mais estava ali, nada. Tive a sensação de não ser mais de minha cidade, de minha terra. Tive a sensação de que não era mais de Recife, era de outro lugar do qual eu não sabia ainda. Sinto que a mudança é algo inevitável mas que ela não vai vim para mim, ela acontece à parte de meu desejo e de minha memória. Quando menos percebemos, bum, teremos de engolir a nova realidade. Talvez eu esteja acomodado com a sempre paisagem linda e poética retirada dos poemas de Bandeira ou da música de Lenine, é difícil engolir um abuso tão grande.
Não sei, mas acho que é assim também em tudo da vida. Quando nos acomodamos e simplesmente achamos que a vida está como estava antes, que não há uma fúria no outro ou na paisagem que nos rodeia, simplesmente ficamos para trás e é difícil acreditar que tudo esta mudando, menos a gente. Não sei se é uma mudança para melhor ou pior sei que é uma mudança da qual eu nem se quer cogitei em mim. É difícil para um casal quando um diz, “eu mudei e vi que a vida a teu lado é um martírio, você não muda”, palavras assim podem fazer você acordar de um estado de torpor do qual certamente não acordaria se a pessoa simplesmente fosse carinhosa e tentasse não assustar. Às vezes uma bofetada na cara ou na boca do estômago do comodismo é a melhor solução para perceber, enfim, o que acontece ao teu redor.
A vida moderna consome tanto, a vida é aquela que nos pede atenção e vitalidade, pede comprometimento e especialização, e quando achamos estar vivendo ela bem, percebemos que simplesmente estamos fechando os olhos para o que realmente importa: a gente.
 -Marcello Borba, 21/06/2012-

quarta-feira, 20 de junho de 2012

"O que você vai ser quando você crescer?"


Eu ouvia muito Legião Urbana e toda vez que uma das minhas sobrinhas estava ao meu lado e ouvia essa pergunta “O que você vai ser quando você crescer?”, ela respondia: médica! E o fazia com muito entusiasmo.  Ô pergunta difícil, essa! Tem gente que já cresceu, mas ainda não sabe o que vai ser. Tem gente que sabe o que quer ser, mas não vai ser, porque ser não é uma coisa tão simples e tão fácil. Depende de outras coisas e pessoas. Na verdade, há uma diferença gigantesca entre o que você quer ser e o que você se permite ser. No fundo, nos cantos mais escondidos do ser, você sabe muito bem o que quer ser. (Eu vou parar com os trocadilhos!) É tudo muito simples (entender o que eu vou dizer é que é simples). Aquilo que você deseja ser está mais relacionado aos seus sentimentos mais profundos e íntimos. Estou falando de profissão mesmo. O problema é a sociedade (... ham? Como assim? Pensei que ia ser simples de entender...). Sim, a sociedade. Porque, ainda hoje, para ela, o “melhor” que você pode ser é um médico ou um advogado. Mas não posso deixar de incluir a “bola da vez”: Engenharia, é claro. Essas profissões tem um status elevado. Quase todas as outras têm um prestígio menor, menos reconhecimento. E também tem aquelas que são “impossíveis”: Astronauta e agente do FBI, por exemplo. Melhor e pior não constituem classificação para profissões. O que pensar de uma sociedade sem poetas, sociólogos, historiadores, policiais, biólogos, professores? Acho que todos entendemos o valor de todas as outras profissões. Só estamos historicamente alienados. Nem vou discorrer muito sobre isso. Vale-me um poema:
O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.”(...)
Gregório de Matos
Porém, na sociedade capitalista em que vivemos, seria muita ingenuidade de minha parte esquecer o dinheiro, pois por mais capitalista que ele seja, nós gostamos e precisamos dele. No processo de escolher uma profissão a ser seguida, estude, avalie, calcule, experimente, conheça. E acima de tudo, equilibre. O tempo é uma das dádivas mais preciosas que temos em nossa vida. E a maneira como o usamos vai fazer toda a diferença. Ninguém quer passar fome e ninguém quer passar frustração. Todo mundo quer ser feliz. E eu tenho certeza que todo mundo não vai ser feliz do mesmo jeito. (Já imaginou um mundo feito de 7 bilhões de pessoas vestidas com um jaleco branco?). É com todas as nossas qualidades e particularidades que iremos somar retalhos de competências a esse imenso mosaico: esse complexo sistema chamado vida e esse complexo lugar chamado mundo. Cada um sabe, para si, o que mais importa e é aí que está o nosso foco. Sabem por que escolher uma profissão é tão importante? Porque está relacionado ao que você vai ser. E ser não somente diz respeito ao que você vai fazer quando se levantar a cada dia, mas é muito mais que isso. Ou você achou que aquela pergunta lá em cima só falava de profissões?

-Danillo Melo, cronista, eletrotécnico e estudante de Letras-
18/06/2012

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Quem você pensa que é?


O homem é o animal mais iludido que já existiu na história do mundo. Tem mania de grandeza, essa gente. Pode-se confiar numa espécie que se diz imagem e semelhança de seu próprio Deus? E o pior. Acredita piamente nesse dito.
A última moda inventada pelo homem é que o planeta corre perigo de sumir do mapa universal. Diz-se ainda, o homem, causador desta catástrofe. Acho que a população anda assistindo filmes americanos demais. (Imagina? Um vilão de filme americano chamado “ O homem.” ?  Ou “Homo Sapien-Sapien”? Ridículo, nem nome de vilão isso parece. Parece mais desenho animado da Walt Disney.)
Dominação e destruição do mundo é coisa Hollywood e fica por lá. O homem não é o grande vilão desse filme chamado “mundo”. Na verdade não passa de mais uma peça do jogo. Entende? É só o planeta balançar, sair de sua rota natural e pronto. Findou-se a passagem da espécie humana na terra. Era uma vez...
É prepotência demais achar que um ‘carrapato’ com alguns milhões de anos na escala evolutiva pode destruir um ‘elefante’ com alguns bilhões de anos nessa mesma escala. Chega a ser gozado. Carrapatos sugam, mas não conseguem matar seu fornecedor. Morrem antes, empanzinados de sangue.
Você acredita que o mesmo planeta que já foi alagado (Totalmente submerso em águas.) e que, outrora, passou por uma era glacial (Famosa era do gelo.) vai se abalar com plástico e garrafa PET? Sendo que estes elementos, apesar de modificados, foram antes de tudo produzidos pelo próprio planeta? Uma cobra não se engasga com o próprio veneno.
Não me entenda mal, caro leitor. A poluição tem, sim, que acabar. Claro!O que quero dizer é que manter limpo o ambiente onde se vive não é questão de salvar o mundo... Não. Passa longe disso. É questão de salvar a própria espécie humana. Esta sim anda ameaçada. A terra não... Continua firme e forte, sofrendo as mutações que sempre sofreu... Tudo dentro da normalidade. Uma normalidade tão maravilhosa que não nos cabe entender. Não nos é permitido entender. Afinal, Quem nós pensamos que somos?

quinta-feira, 14 de junho de 2012

O despertar da velhice


Recebi, hoje, uma triste notícia. O meu grande amigo e também cronista Marcello Borba me mandou um link de uma pequena matéria com o seguinte título: Gabriel Garcia Márquez estaria perdendo a memória. “Minha nossa!”, pensei . Lembrei-me de uma parte do romance Cem anos de Solidão, quando um personagem do livro precisou escrever o nome de cada objeto ao seu redor para não esquecê-los. Quanta ironia. Meu comentário e resposta a respeito do texto foram: “...uma mente genial esquecendo-se das coisas, mas seus livros também são sua memória!” “Seus livros também são sua memória...”  Assim como o seu personagem, o escritor colombiano já registrou sua memória. Pensei no tempo e no que ele faz com os gênios e os não gênios. Ele não poupa ninguém. O tempo tem um papel primordial na escola da vida, porque ele nos dá e nos tira as coisas. Não importa se você tem apenas 20 anos. Você não está velho, nem acho que você esteja ficando velho. Mas você já viu o que o tempo faz. Provavelmente você já sofreu e já se regozijou com a influência do tempo em sua vida. E uma das coisas que o tempo traz é, justamente, ela, a velhice. Acho que a velhice é muito mais do que ficar cheio de rugas e perder a beleza. É a sensação de que o fio está se desprendendo. O fio da vida. É o pôr do sol. É como se toda uma vida fosse o alvorecer e o ocaso. Como se fosse um só dia, que de tão efêmero, nos faz pensar no que fazer, antes que esse dia termine, pra que tudo vivido possa ter valido a pena. E pior do que perder a memória é não ter uma memória. Algo digno e capaz de ser apreciado. Algo para que, assim como um grande escritor, você e outros possam lembrar do que você é ou foi. Mas eu não estou falando de livros, estou falando de atos. Além dos diários e das fotografias, deixemos um filho, uma árvore, um bom exemplo, um legado. É o legado que ficará, depois de tudo, quer percamos a memória ou a vida. É o legado que fará com que sejam escritas, no tempo, a nossa história, até que ele perceba que não consegue nos levar completamente. E o tempo de tão curto, nos ensina a usá-lo melhor, até ficarmos velhos de tanto amor, realizações e alegrias. Que ao olhar para trás, do nascer do sol, até agora, possamos sentir, com satisfação, que estamos escrevendo uma obra-prima chamada vida...Tenham um bom dia!

-Danillo Melo-
14/06/2012