quinta-feira, 6 de junho de 2013

O amor é uma droga


Começa sempre assim: primeiro, a  mera curiosidade, segundo, o  interesse genuíno e inocente, terceiro, a atração. Depois todo mundo prova e aprova e desaprova e aprova... Nem adianta se opor. Ninguém consegue se impor. É como um fator biológico, uma necessidade latente, depois pungente, depois explícita. É como um bálsamo que perfuma esse viver, tantas vezes, vazio e melancólico. Perfuma, porque corta. Corta para que perfume. Quem nunca usou, vai usar. Quem diz que não quer, está mentindo. Quem se proclama livre, é ingênuo ou mentiroso. Quem é livre, não é humano ou não existe. O amor é uma droga. De repente, dentro de si, as coisas começam a mudar e fora de si, lá fora, tudo começa a ficar multicor, musical e vivo, como nunca antes havia sido. Aí agente se entrega, se embebeda, se entorpece. Os amigos,uns riem. Outros, usam conosco. E ainda outros, nos aconselhem a largar. Mas nós nos afogamos, sem medo, sem medida, e muitas vezes, sem sentido...só sentindo. Aí agente se perde e se acha nunca tão encontrado na vida. Mas quando o efeito acaba, agente se acaba e se perde, novamente, e se desespera e sofre...de abstinência, de vergonha, de frustração, de dor...de cabeça, no peito, na consciência. E prometemos não usar nunca mais. Então colecionamos tentativas frustradas de viver sem ele ou de esquecê-lo, até descobrirmos que sem ele não se vive e que dele não se esquece. É quando entendemos que o amor nos permite conhecer a nós mesmos e descobrir quem somos. Porque amar é altruísta em seus meios, mas egoísta em seus fins. É a condição mínima, o desejo manifesto de se deixar levar. Nós amamos, porque nos amamos. Porque amar é o efeito de ser amado. É o nirvana, a transcendentalidade, o êxtase. O outro é o instrumento com o qual nos drogamos. É a garrafa, a bituca, a seringa. Sem o outro não poderíamos desfrutar da demonstração mais sublime do amor próprio. Sem nós, o outro não poderia fazer o mesmo. E quando descobrimos que o muito amar, muito nos fará ser amado, nós amamos mais e mais e mais...como se o instrumento que carrega a nossa droga, em vez de uma garrafa, fosse uma fonte que nunca seca. Mas se um dia seca, leva embora consigo tudo com o que havia nos drogado, deixando-nos tão a sós que não nos achamos no infinito vazio. Aí nós rimos de uns amigos, amparamos alguns outros e aconselhamos ainda outros a largar tudo. Mas quando nós olhamos tudo ao nosso redor e não ouvimos as músicas, nem vemos as cores, nós nos damos conta de que o amor tem gosto de vida e que prender-se a ele é como estar preso à liberdade. É como se cada célula do nosso corpo tivesse sido criada pra isso e isso fosse a droga e o sangue que injetamos em nossas veias para tornarmo-nos verdadeiramente seres (humanos) e notadamente vivos... Então nós largamos tudo, mais uma vez, e saímos correndo, nunca prontos, mas sempre...sempre dispostos a amar novamente...

-Danillo Melo-
  06/06/2013