segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Nunca fui militante

Quando eu era criança, havia dois momentos atípicos no dia a dia da sociedade que muito me chamavam a atenção e até hoje se mantem bem vivos em minha memória. Eram o carnaval e as eleições. O primeiro, era uma festa, o segundo, era quase o primeiro. Eram muitas as semelhanças. Ambos carregavam multidões. Levavam pessoas de um lado para o outro. Os dois eram recheados de músicas, pessoas públicas, lixo e poluição visual e sonora. Do carnaval, trago até hoje, em sua maioria, lembranças doces, que coincidem com a minha descoberta da música pernambucana e com a descoberta de mim mesmo, enquanto músico. Das disputas eleitorais, trago lembranças de bandeiras, as mais diversas, se erguendo como o estandarte do Bloco das Flores, no Recife Antigo, endossadas, porém, nesse caso, por gritos de guerra, sons de caixas, músicas de candidatos e um mar (quase que literalmente, um mar) de panfletos... Do carnaval, trago uma paixão comedida, mas sempre presente, que praticamente não me deixa um ano sem prestigiá-lo. Da "festa da democracia", como a chamam por aí, trago uma nuvem negra que teima ( e vem teimando há algum tempo) em não cessar de derramar chuvas de descrença e de desesperança à respeito de tudo que "rola" nessa festa. Fosse esse turbilhão de informações e sons e imagens mais eficaz, eu poderia ser, hoje, um militante da causa de algum partido político sei lá de onde, que acredita em sei lá o quê, no entanto, não sou, nem nunca fui. Nunca fui militante. Nem pretendo ser. Todavia não serei radical ao ponto de dizer que nunca o serei. Como canta Gal Costa: "talvez quem sabe um dia..." No dia em que a militância for menos cega, mais razão, menos mercenária, mais ideologia ... talvez nesse dia... quando partidos deixarem de ser defendidos como se fossem organizações religiosas  ou clubes de futebol... quando esquerda, direita e centro não se traduzirem na mesma coisa... aí eu milito... visto a camisa como um abadá e corro atrás do trio, do quarteto ou seja lá qual for a coligação honesta que se estabeleça... torço, grito, choro e ponho a mão na cabeça quando a meta for a luta em vez de só o discurso.... oro e peço ajuda quando os desafios parecerem intransponíveis mas ninguém desistir de enfrentá-los... ergo a voz e o estandarte quando a honestidade for a bandeira e luto quando o Brasil for o bloco e o bem geral for a causa... milito ,sim... quando for pra tomar partido do povo, pois esse é o meu partido... é essa  minha militância... por uma sociedade mais igual e menos segregadora, por uma nação mais rica e mais pacífica. Pois eu sou militante... Sempre fui militante! E você? Não é?

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